30 de out. de 2010

CRISTO, O TESOURO INCOMPARÁVEL


Leitura Bíblica: Mateus 13:44; 6:19-21; Filipenses 3:7,8
INTRODUÇÃO
“Também o Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu, e pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo”.
Após ter ensinado a respeito do reino de Deus quanto à sua existência no mundo, quanto ao destino dos seus filhos, bem como quanto à sua essência, que não se confunde com a aparência que venha a possuir, Jesus parte para ensinar os seus discípulos a respeito do valor do reino de Deus. Conforme temos visto, o Senhor Jesus, em suas Parábolas, fez uso de coisas bem conhecidas de todo o povo a fim de revelar os mistérios de seu Reino. Assim, também, na Parábola do Tesouro Escondido não foi diferente.
Para nós, hoje, falar-se em tesouro escondido pode parecer estranho. Em nossos dias existem locais próprios, e seguros, onde podemos guardar nossas coisas de valor, seja dinheiro, jóias, ou qualquer outro objeto. Ninguém mais costuma enterrar, ou esconder tesouros. Porém, sabe-se que naquela época era normal e comum proceder-se desta maneira. As pessoas costumavam esconder, quase sempre enterrando seus tesouros. O Senhor Jesus, na Parábola dos Talentos, referiu-se a essa prática, quando disse – Mas, chegando o que recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não espalhaste. E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu”Mt 26:24-25). Portanto, quando o Senhor Jesus fez referencia “...a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu...”, ele estava falando de um costume praticado por muitos, e conhecido por todo o Povo.
A Parábola do Tesouro Escondido é a quinta das sete Parábolas que compõem o terceiro grande sermão de Jesus, sendo que ela foi registrada apenas por Mateus. Conforme temos visto, o Senhor Jesus se destacou como sendo um Mestre, por Excelência, porque ensinando por Parábolas, Ele fazia uso de coisas e fatos do cotidiano do povo, o que tornava seu ensino atraente e compreensível por todos seus ouvintes, qualquer que fosse o nível cultural, social ou econômico. Assim, não foi sem razão que Ele proferiu esta Parábola usando a figura de um tesouro escondido. Portanto, ao falar de um homem que encontrou um Tesouro escondido, estava falando de uma coisa bem familiar, ou de um fato conhecido por todos. Isto fazia com que seu ensino fosse sempre atraente. Conforme temos estudado, o Senhor Jesus fez uso de Parábolas para revelar os mistérios de seu Reino. Como conhecer os Mistérios do Reino de Deus era do interesse apenas dos “filhos do Rei”, então Jesus afirmou que falava por Parábolas a fim de que os que não fossem filhos do Rei, realmente não entendessem o teor do seu ensino, conforme afirmou aos seus discípulos – “...A vós vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas essas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não entendam...”(Mc 4:11-12).

Considerações Preliminares

No quarto estudo deste trimestre falamos das dificuldades de interpretação da Parábola do Grão de Mostarda. Contudo, afirmamos que aquelas dificuldades situavam-se, apenas, no âmbito dos elementos secundários, ou de sustentação da Parábola, uma vez que, entre nossos comentaristas, havia um consenso quanto à sua Verdade Central, a qual versava sobre o Crescimento do Reino dos Céus, ou da Igreja do Senhor Jesus Cristo, aqui na Terra. Entretanto, no que tange à parábola do Tesouro Escondido, as dificuldades são maiores, pois, não há entre os “nossos” próprios comentaristas um consenso sobre sua Verdade Central, conforme é possível observar através de literaturas publicadas pela própria Casa Publicadora”. Para uns, o Tesouro que se encontra no Núcleo da Parábola é Cristo“ o tesouro incomparável que uma vez encontrado, enche-nos de completa satisfação”. Para outros, no entanto, este mesmo Tesouro é o homem perdido no pecado, sendo que, neste caso o “homem” que o achou e escondeu é Cristo [ Vide a refutação desta interpretação no item 02 do tópico II ]. Para outros, identificam o “tesouro” da parábola com a Igreja, dizendo que o homem é Jesus e o tesouro escondido seria a Igreja, o mistério que esteve escondido durante os séculos (cfr. Ef.3:1-6). Entretanto, não parece ser este o melhor entendimento, haja vista que o tesouro, na parábola, já existia e tinha valor antes mesmo que fosse encontrado. Ora, sabemos que quem edificou a Igreja foi Jesus (Mt.16:18), de forma que, ao contrário do tesouro, que pré-existia ao homem que o achou, a Igreja só foi edificada por Jesus depois de sua vinda a este mundo, de forma que não havia, antes de Jesus, Igreja no mundo. Portanto, a Igreja não pode ser considerada o tesouro da parábola. A Igreja é, sem dúvida, uma jóia preciosa de Deus aqui na Terra, mas o seu valor não se encontra nela própria, como acontece com o tesouro, mas em Jesus, que é a sua cabeça e, simultaneamente, o Salvador do corpo (Ef.5:23; Cl.1:18). O valor da Igreja é conseqüência direta de pertencermos a Jesus, de sermos ramos da videira verdadeira. Portanto, o valor que a Igreja tem é resultado de ter passado a pertencer a Cristo, o verdadeiro tesouro, a fonte de todo o valor. A Igreja só tem valor na medida em que se torna o corpo de Cristo, tanto que o crente tem como alvo formar Cristo nele (Gl.4:19) e atingir a estatura de varão perfeito, a estatura completa de Cristo (Ef.4:13). Portanto, o tesouro, na verdade, é Cristo e não a Igreja, cujo valor decorre única e exclusivamente do fato de ter passado a pertencer a Jesus.
Assim, é certo que muitos professores vão encontrar em suas classes alunos que pensam desta ou daquela maneira. É claro que o professor deverá colocar, com segurança, a sua interpretação, respeitando-se as opiniões divergentes, e evitando discussões infrutíferas. É bom que sigamos a orientação que nos está proposta no nosso manual de estudo, que é a nossa Lição Bíblica.
O que chamamos de Verdade Central constitui a razão pela qual o Senhor Jesus proferiu uma determinada Parábola, ou seja, qual o ensino a respeito de seu Reino que ele quis revelar ao fazer uso de um objeto, ou de um fato, que fosse bem conhecido de seus ouvintes. Aqui, no Núcleo da Parábola, destaca-se a existência de um Tesouro, ou seja, uma coisa considerada de muito valor. Como em todas as Parábolas proferidas, anteriormente, seu objetivo é revelar os mistérios referentes ao seu Reino, ou ao Reino dos Céus, nesta o Senhor Jesus usou a figura de um tesouro, ou seja, algo considerado por todos como sendo de grande valor. Apesar das disparas identificações do Tesouro por parte de alguns comentaristas, entendemos que nenhuma das suas interpretações anula o valor do Tesouro. Isto significa que a Verdade Central da Parábola não é prejudicada.
Nas três Parábolas anteriores, o homem foi o centro das atenções do “Dono do Campo”. Nesta, o homem é considerado uma figura do pecador, o qual movido pela imensa alegria de ter encontrado algo de valor tão elevado, rejeita, ou “vende” tudo o que antes lhe dava satisfação para, agora, ficar tão somente com Cristo, o Tesouro que, para ele, estava “escondido”, tal como queria fazer Zaqueu.
Portanto, se Cristo é o Tesouro referido nesta Parábola, sendo que foi o homem que o encontrou, e não ele ao homem, então procuremos fazer dele o nosso maior bem, colocando-o acima de tudo e de todos, acima de nossos interesses pessoais, e materiais, acima de nossa própria vida, conforme ele mesmo se referiu em Mateus 10:37-39 – “quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não segue após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-a; e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”.
Se Cristo é o nosso Tesouro, e que após encontra-lo procuramos esconde-lo no mais profundo do nosso coração, façamos nossa as palavras de Paulo – Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento em Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo”(Fp 3:7-8).
Se Cristo é o nosso Tesouro, então façamos como fizeram Pedro e André, quando se encontraram com Jesus, o qual lhes disse: “...Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. Encontrando-se com Jesus e sendo chamados por ele, não perguntaram o que iriam receber, pois, para eles o bem maior era Cristo, mas se preocuparam em deixar o que tinha que ser deixado – “Então, eles, deixando logo as redes, seguiram-no”(Mt 4:19-20). Quem encontrar Cristo não tem que se preocupar com o que vai ganhar, mas, com o que tem que deixar para poder ficar com Seu Tesouro.
I -O TESOURO ESCONDIDO
Quando Jesus compara o reino de Deus a um tesouro escondido no campo, está dizendo, portanto, que o reino de Deus é algo que deve ser desejado, algo que deve ser buscado com insistência e persistência, assim como aqueles agricultores paupérrimos da Palestina, todo santo dia, ao cavarem a terra ou a andarem pelas estradas poeirentas e desérticas daquele local, tinham a esperança de, um dia, encontrarem um tesouro escondido e esquecido, que os fizesse mudar radicalmente de vida na sociedade.
01) O Sentido de “Tesouro na Bíblia” - Nos tempos de Jesus, as riquezas, normalmente, eram mantidas em metais ou pedras preciosos, já que o uso da moeda não era, ainda, muito difundido. Diante das freqüentes guerras e incertezas relativas à política, a posse de riquezas em metais e pedras preciosos era a principal forma de alguém ter o seu “pé-de-meia”, principalmente aqueles que obtinham êxito financeiro e pertenciam à elite da sociedade. Pois bem, diante de um quadro de tanta incerteza, que, inclusive, aconselhava a acumulação de riquezas em metais e pedras preciosas, não havia outra forma de se guardar as riquezas senão através da guarda na própria residência, quase sempre num compartimento apropriado, que era, por isso mesmo, chamado de “casa do tesouro” (cfr. II Rs.20:13; Is.39:2), como vemos, inclusive, no próprio templo entre os judeus (Ne.10:38; Ml.3:10) ou, mesmo, nos templos pagãos (Dn.1:2). Entretanto, a existência de uma “casa do tesouro” , como afirma o sábio, trazia inquietação (Pv.15:16b), de sorte que se tratava de uma iniciativa que somente os mais poderosos, que dispunham de condições de ter uma guarda a seu serviço, podiam se dar ao luxo de assim proceder.
02) O costume oriental de ocultar tesouros - Aqueles que não tinham como manter uma guarda ininterrupta para a proteção de suas riquezas (o que, no fundo, só podiam fazer os reis, príncipes e a classe sacerdotal), outra alternativa não tinham senão esconder este tesouro, enterrando-o em suas propriedades ou em lugares desconhecidos dos outros, a fim de impedir que ladrões viessem a tomá-lo. Naquele tempo, não havia, ainda, uma desenvolvida rede bancária, como nos nossos dias, rede esta, aliás, que só se desenvolveu a partir da metade da Idade Média, por volta do século X em diante. Verdade é que, nos tempos de Jesus, os bancos não eram desconhecidos (cfr. Lc.19:23), mas eram extremamente precários e, praticamente, eram locais de negociações rápidas, quase sempre vinculadas à troca de moedas, sem qualquer idéia de depósito de quantias sob sua responsabilidade. Nos nossos dias, com o avanço da rede bancária e com a facilidade que há na guarda de riquezas, ainda há aqueles que insistem em guardar o dinheiro em casa, “debaixo do colchão”, que dirá naqueles tempos tão precários como os dias de Jesus. Diante deste costume, portanto, não era difícil que alguém morresse sem indicar a outrem o local onde estava escondido o tesouro, isto é, o depósito das riquezas, o local onde estavam guardados os metais e pedras preciosas que haviam sido escondidas ou, ainda, que alguém achasse o tesouro antes que o seu dono fosse buscá-lo.
03)A possibilidade de ser dono do tesouro descoberto - Entre as pessoas simples que trabalhavam no campo, em serviço braçal, despidas de recursos, era sempre uma esperança achar um tesouro que estivesse escondido em uma caverna, ou enterrado em um local onde se procedesse a um cavar, uma remota esperança, mas sempre uma esperança, algo semelhante à esperança que muitos homens têm, na atualidade, de serem sorteados em concursos ou de ganharem em alguma das muitas loterias existentes, desejo este que, embora seja remoto, é tão vivo e persistente que movimenta um dos maiores negócios do mundo, como é o jogo.
O objetivo da vida do homem também é comparado a um “tesouro”. Aquilo que muito queremos, aquilo que muito desejamos é o tesouro, como era para o agricultor judeu dos dias de Jesus. Ao dizer que o reino de Deus é um tesouro escondido no campo, Jesus está nos dizendo que o reino de Deus é algo que tem de ser desejado, algo que tem de ser buscado, algo que tem de ser elevado à condição de um objetivo, de um propósito por parte do ser humano. O tesouro escondido não é conhecido de antemão, não é palpável de pronto, mas é uma esperança, é algo que é esperado e que tem de ser insistentemente buscado.
Jesus mostra, nesta parábola, que o reino de Deus não vem dos esforços humanos, nem depende do homem para que exista. O tesouro escondido existe antes que o homem o encontre. Não é o homem que o encontra que dá valor ao tesouro ou que lhe dá condição de existência, mas o homem que o encontra é tão somente um beneficiário deste tesouro. Fica rico porque encontrou o tesouro, mas o valor vem do tesouro e não do homem que o achou. Assim é o reino de Deus: ele vale por si mesmo, não pelo homem que o encontra. É o reino de Deus quem enriquece, não o homem que, se não encontrar o tesouro, continuará pobre e sem recursos.
Há, sim, uma participação por parte do homem que encontra o tesouro. Esta participação está no esforço e na busca incessante para encontrá-lo. Se o homem não procurar o tesouro, jamais o achará. Jesus diz que o homem achou o tesouro, de forma que há uma participação do homem na apropriação do tesouro, mas isto, em absoluto, quer dizer que o valor do tesouro esteja no homem e não no próprio tesouro. Uma vez mais, Jesus nos dá a perfeita idéia da participação humana na salvação: desejar e procurar até achar.
II – INTERPRETANDO OS ELEMENTOS DA PARÁBOLA
01) O “Campo”(v.44) - O tesouro estava escondido no campo. O campo é o mundo, como podemos inferir do contexto do capítulo 13 de Mateus (Mt.13:38). Jesus foi mandado a este mundo, sem que a ele pertencesse, assim como o tesouro é enterrado no campo, sem fazer parte deste (cfr. Jo.17:16). No campo, o tesouro é escondido, para que não seja tomado pelos ladrões, assim como Jesus foi guardado e não foi feito propriedade do inimigo, que é o ladrão por excelência (Jo.10:10). O campo era do proprietário, assim se presume, já que, na maior parte das vezes, o tesouro era enterrado em campo de propriedade do dono das riquezas, ainda que este campo não estivesse, naquele exato instante, em poder do referido proprietário. Em Israel, vigorava uma legislação que proibia a perda da propriedade por parte das tribos, a garantir, portanto, que o campo nunca saísse da propriedade familiar, uma garantia a mais de que o tesouro não se perderia. Por isso, a parábola, mais uma vez neste capítulo 13, reafirma que o mundo é do Senhor (Sl. 24:1), não tendo razão alguma quem insiste em dizer que o mundo passou a ser do diabo com o pecado do homem, como, temos falado em estudos anteriores neste trimestre.
02) O “homem”(v.44) - O reino de Deus é semelhante a um tesouro escondido no campo que um homem achou e escondeu. Vemos aqui o terceiro elemento da parábola: o homem. Ao contrário das parábolas anteriores, onde, normalmente, a figura do homem do campo representava o próprio Jesus (o semeador na primeira parábola, o dono do campo na segunda parábola e, outra vez, o semeador, na terceira parábola), nesta o homem não mais representa Jesus, que, como vimos, é o tesouro, mas, sim, o pecador, aquele que busca e encontra o tesouro. Se o contexto do capítulo 13 de Mateus sempre identifica o homem com Cristo, por que o homem desta parábola não é o Senhor? Precisamente porque o tesouro escondido é o Senhor Jesus. Ora, se o Senhor é o tesouro, não pode ser, simultaneamente, o homem que buscou e achou o tesouro.
O homem mencionado nesta parábola, ao contrário dos homens das parábolas anteriores, não é o proprietário do campo. Nas parábolas anteriores, o semeador era, sempre, o dono do campo, o senhor da terra. Não é o que ocorre com o homem desta parábola , haja vista que Jesus diz que, ao achar o tesouro, vai e vende tudo o que tem para que possa comprar o campo e, assim, se fazer dono do campo. Vemos, assim, que uma qualidade relevante que os homens das outras parábolas tinham, não o tem o homem da parábola do tesouro escondido.
O homem retratado na parábola do tesouro escondido, também, é um servo, é alguém que está a trabalhar para outrem, tanto que trabalha em campo alheio. É um jornaleiro, ou seja, um empregado, um trabalhador. Esta é a posição do ser humano. O homem é tão somente um servo de Deus, é um mordomo, a quem Deus incumbiu uma nobre tarefa, a de administrar a Terra para o Senhor, mas que não passa de um servo, de alguém que está sob ordens. Esta circunstância faz com que o homem da parábola não possa ser identificado com Jesus, que é o Senhor dos senhores, o Rei dos reis (Ap.19:16).
O homem retratado na parábola do tesouro escondido é pobre. Ao achar o tesouro escondido, ele fica alegre e vende tudo quanto tem para que possa adquirir o campo, a fim de se assenhorear do tesouro. Também não pode ser símbolo de Jesus que, como a Bíblia nos ensina, é rico, embora, por amor de nós, tenha nascido pobre (II Co.8:9). Aliás, a circunstância de o homem ser enriquecido pelo tesouro é mais uma evidência de que o tesouro é Cristo, pois é Ele quem nos enriquece.
03) O “tesouro”(v.44)Diz Jesus na parábola, que, ao achar o tesouro escondido, o homem tornou a escondê-lo. Isto nos mostra que o homem, ao achar o tesouro, reconheceu o valor que o tesouro tinha e, portanto, resolveu adquiri-lo, o que somente seria possível se adquirisse o campo, pois o dono do campo é que seria o legítimo dono do tesouro. O fato de o homem ter tornado a esconder o tesouro é a demonstração de que verificou e chegou à conclusão que o tesouro era de grande valor, de tão grande valor que compensava que ele abrisse mão de todos os seus bens e adquirisse o campo onde foi encontrado o tesouro, campo este que era de valor inferior ao próprio tesouro. O homem chegou, então, à conclusão que a coisa mais valiosa que poderia possuir era aquele tesouro que havia encontrado. Tornar a esconder o tesouro é dar o devido valor ao tesouro, é abrir mão de tudo para se apossar do tesouro. Tal acontece com a salvação de um ser humano, conforme ensina Jesus. No momento em que alguém aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, abre mão de todos os valores que possa ter na vida, resolvendo tudo deixar para se apossar de Cristo, este tesouro incomparável. A conclusão a que chega a pessoa que aceita Cristo não é outra senão a do poeta sacro da Harpa Cristã: “outro bem não procurarei, outro bem eu não acharei. Já em mim ‘stá Jesus, nEle só vou confiar. Quem aqui pode me saciar neste mundo enganador? Só Jesus, Jesus, só Jesus, Jesus, Rei meu e fiel Senhor” (estrofe do hino 473).
III – CRISTO, O TESOURO SUPREMO
O tesouro escondido precisa ser achado, precisa ser descoberto e isto somente se dará quando houver a revelação do mistério de Deus, “…que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos, aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós...” (Cl.3:26-28). Por este texto de Paulo, portanto, vemos que o tesouro escondido, que é o reino de Deus, não é outro senão o próprio Cristo. Jesus é o tesouro escondido, porque, embora destinado a vir a este mundo desde antes da fundação do mundo, somente se revelou, por completo, como o Salvador, quando iniciou seu ministério público, logo após ter sido batizado por João. Mesmo assim, foi rejeitado pelo seu povo e, diante desta rejeição, foi desvendado o mistério aos gentios, que, assim, tiveram a oportunidade de também encontrar este tesouro. Mas, assim não basta que o tesouro seja noticiado, mas tenha de ser encontrado para que a pessoa usufrua as suas riquezas; não basta que o evangelho seja pregado, sendo indispensável que a pessoa queira e se disponha a encontrar Jesus, quando, então, será enriquecido com a salvação e demais bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Todos os tesouros deste mundo sejam riquezas materiais, fama, prestígio ou sabedoria humana, não podem ser comparados à grandeza do reino e sua glória de que seremos participantes(Cl 2:2,3; Rm 8:18).
01) Descobrindo as riquezas de Deus em Cristo Jesus - Somente quando nos dispomos a buscar a Deus, a procurá-lO com empenho e com dedicação é que teremos a oportunidade de encontrá-lO. Muitos, nos nossos dias, não estão verdadeiramente buscando a Deus, porque têm medo de achá-lO. Pode alguém ter receio de encontrar a Deus? Infelizmente, isto é possível, principalmente para aqueles que estão vivendo caminhos que desagradam ao Senhor. Entretanto, não devemos ter medo de Deus, mas confiar que Ele é misericordioso e que está pronto a perdoar e a lançar os nossos pecados no mar do esquecimento. Verdade é que exige de nós que, depois, não mais pequemos, como disse à mulher adúltera, mas tem de haver esta disposição de nossa parte, que é o fruto de um verdadeiro e sincero arrependimento. Quando há um verdadeiro e sincero arrependimento, uma disposição, uma vontade de mudar de vida, o pecador, certamente, encontrará o tesouro escondido, terá um encontro pessoal e real com o Senhor Jesus. Não importa o que tenha feito. Pedro converteu-se no exato instante em que, envergonhado pela tríplice negação dAquele que tanto o havia amado, chorou amargamente (Mt.26:75; Lc.22:62). Entretanto, como havia se arrependido, não teve receio em ir ao encontro do Mestre quando por Ele foi chamado (Mc.16:7), tendo, então, tido um proveitoso reencontro com o Senhor. Não foi, porém, o que ocorreu com Judas Iscariotes que, por ter apenas sentido remorso, acabou se suicidando e não atendendo ao chamado do mesmo amoroso Jesus que salvou a Pedro (cfr. Mt.26:50a). A boa notícia do evangelho, o achado do tesouro, depende, antes de tudo, de arrependimento (Mc.1:15) e isto está simbolizado nesta parábola pela circunstância de que, para o homem achar o tesouro escondido, foi necessário buscá-lo.
02) Cristo é nosso tesouro permanente – A verdade prática da nossa Lição reflete muito bem o que é ter Cristo como nosso tesouro permanente: “Tendo a Cristo como o nosso inigualável tesouro, tudo mais em nossa vida é secundário”. Se Cristo é o nosso Tesouro Permanente, então é nele que nós temos que colocar o nosso coração. Dizer que Cristo é o nosso Tesouro e, no entanto, vivermos ansiosamente, correndo e “brigando” pela aquisição de outros tesouros, então, quer nos parecer, que a posse de Cristo não bastou para preencher o desejo de possuir algo de valor. Para aquele que tem Jesus como seu Tesouro, todos os demais tesouros serão considerados como secundários sendo que nele não estará o coração do homem, conforme o Senhor Jesus, ensinou – “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu. Onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, ai estará o vosso coração”(Mt 6:19-21). As riquezas desta vida são efêmeras e perecíveis e não nos acompanham por toda a vida. Porém, Jesus, o nosso Tesouro inigualável, permanecerá conosco por toda a eternidade. Mas, para este tesouro, que é Jesus, está sempre conosco devemos pôr como objetivo, como propósito único de nossa vida, o de agradar a Deus e fazer a sua vontade. No Pai nosso, Jesus nos deixa isto bem claro quando afirma que devemos pedir a Deus que o seu reino venha e isto nada mais é que a sua vontade se faça assim na terra como no céu, ou seja, que a vontade de Deus comece a se realizar em nossas vidas (Mt.6:10). Jesus, em outra passagem, também nos mostra que o reino de Deus deve estar acima, mesmo, de nossos relacionamentos com os demais homens, a ponto de ter dito que não seria digno dEle quem não deixasse pai, mãe e filhos em prol do reino de Deus (Mt.10:37). Este ensinamento, usado por tantos como uma desculpa para negligenciarem a sua vida familiar, não tem este sentido senão o significado de que, acima da família, deve estar o propósito de servir a Deus. Mas, além das necessidades básicas de sobrevivência e da família, Jesus também nos ensina que o reino de Deus deve estar acima de nós mesmos. A renúncia de nós mesmos é outra exigência para que tenhamos parte com o Senhor. “Quem achar a sua vida perdê-la-á e quem perder a sua vida por amor de Mim achá-la-á” (Mt.10:39). É preciso que renunciemos a nós mesmos, que sacrifiquemos a nossa vontade, assim como Jesus sacrificou a sua no jardim do Getsêmane, para que possamos entrar no reino de Deus.
IV – A ESCOLHA DO MAGNÍFICO TESOURO
O primeiro e grande mandamento da lei é amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37,38). Deus não permite dividir a sua glória com nada nem com ninguém. É absolutamente necessário que deixemos tudo a fim de que possamos adquirir o tesouro. O tesouro tem mais valor do que tudo e, por isso, vale a pena deixarmos tudo para o adquirirmos.
O homem tornou a esconder o tesouro e partiu para vender todos os bens que possuía, a fim de adquirir o campo. O homem vendeu tudo o que tinha para comprar o campo, mas não porque tivesse interesse no campo, mas porque queria ser o dono legítimo do tesouro. Ora, da mesma maneira, o crente tem de estar disposto a pagar o preço neste mundo, embora não tenha este mundo como objetivo, mas, sim, a posse do tesouro, a vida eterna com Jesus. O preço, porém, é alto, pois é o preço da exclusividade. Não há como servir a Deus e a Mamom, simultaneamente (Mt.6:24). Pagar o preço não é comprar a salvação, pois não temos como compra-la, cujo preço foi o sangue de Jesus Cristo (I Pe.1:18,19). Pagar o preço é sofrer o vitupério de Cristo (Hb.11:26), isto é, sofrer a desonra e a humilhação diante dos pecadores por ser um servo de Deus. Pagar o preço é se santificar cada vez mais (Ap.22:11), é perseverar até o fim (Mt.24:13), é combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé (II Tm.4:7), é não recuar na decisão de servir a Deus e fazer somente a sua vontade (Hb.10:35-39), é não amar o mundo nem o que no mundo há (I Jo.2:15).
A consciência de que tudo deveria ser deixado por amor a Cristo é uma característica nos discípulos do Senhor. Os pescadores Pedro, Tiago e João deixaram as redes, instrumento de sua sobrevivência, e seguiram ao Senhor. O publicano Mateus(Levi) deixou a alfândega, de onde tirava o seu sustento, para seguir a Jesus. Paulo diz que todas as coisas que possuía, inclusive sua alta posição social e política, foram reputadas por perda por amor ao Senhor. Em compensação, aqueles que não deixaram o que tinham, não foram considerados como discípulos de Cristo, como é o caso do jovem rico, a única pessoa que, nos evangelhos, após um encontro com Jesus, saiu da presença do Senhor pesarosa, sem qualquer felicidade.
V – CONCLUSÃO
Se Cristo é o nosso Tesouro, então, para nós, nada, mas, nada mesmo, poderá ser mais importante e mais valioso do que Cristo! Infelizmente muitos que se dizem crentes, não conseguiram, ainda, calcular o valor desse Tesouro. Para Judas seu valor foi de trinta moedas de prata(Mt 26:14-15). Pela lei de Moisés, como está escrito em Exodo 21:32, trinta moedas de prata era o valor a ser pago pela vida de um escravo. Este foi o valor que Judas lhe conferiu. Quanto vale Jesus para nós?
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

A EXPANSÃO DO REINO DE DEUS

Leitura Bíblica: Mateus 13:31,32 ; Atos 2:44-47

INTRODUÇÃO

Continuando o estudo das Parábolas, estaremos estudando a Parábola do grão de mostarda, que é a terceira narrada em Mateus 13, onde Jesus, ainda tratando do reino de Deus, fala, agora, acerca de sua expansão, a qual é uma realidade, mas que tem de ser analisada sob o aspecto espiritual, pois o reino de Deus não é deste mundo (cfr. Jo.18:36a). Esta parábola não foi interpretada por Jesus, ao contrário das duas já estudadas (a do semeador e a do joio e trigo), não se tendo, portanto, a tranqüilidade dos casos anteriores, onde não cabe discussão, já que a interpretação se encontra registrada na própria Bíblia Sagrada. Não é, portanto, surpresa que encontremos idéias tão díspares entre os ensinadores dos textos sagrados. Devemos, entretanto, ser cautelosos na interpretação, lembrando, sempre, que uma parábola não pode dar origem a qualquer doutrina, pois é uma explicação, uma ilustração de uma doutrina, bem como, também, procurar encontrar respaldo dos pensamentos e das interpretações em outras passagens bíblicas, pois, como diz a própria Bíblia, “…nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação, porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe.1:20b,21).O objetivo de Jesus, nesta parábola, é fazer uma ilustração do que seja o reino de Deus. Na narrativa de Mateus, Jesus já havia falado a respeito da boa terra, que era o que foi semeado pela Palavra de Deus, ouviu e compreendeu a Palavra, deu fruto e produziu (Mt.13:23), como também da boa semente, que eram “os filhos do reino” (Mt.13:38), que, como trigo, seriam ajuntados no celeiro. Agora, vai dar uma idéia do que é o reino dos céus ou reino de Deus. Para tanto, usa da figura do grão de mostarda.

Considerações Preliminares

Assim como o Senhor Jesus deixou claro que a Verdade Central da Parábola do Semeador é a necessidade de que sua Palavra seja ensinada, e pregada, em todo o mundo e a todas as criaturas, e que a da Parábola do Trigo e do Joio é a necessidade da convivência entre o Bem e o Mal enquanto a Igreja estiver aqui na Terra, sendo que a separação será feita “por ocasião da ceifa”, assim, também, o Espírito Santo, como representante de Jesus, aqui na Terra, tem dado entendimento aos homens de Deus, aos teólogos e comentaristas responsáveis, idôneos e tementes a Deus sobre a Verdade Central da Parábola do Grão de Mostarda. Existe, portanto, um entendimento comum, ou um consenso de que, ao propor esta Parábola, o Senhor Jesus quis revelar como aconteceria A Expansão do Reino dos Céus, ou, como seria o Crescimento de sua Igreja, após ter tido um inicio revestido de muita humildade, sem qualquer aparência exterior, quase imperceptível aos olhos dos homens, ou à semelhança de um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo. Contudo, apesar de um começo sem toques de trombetas”, tal como uma hortaliça, a Igreja teria um rápido crescimento, da mesma forma que o pé de mostarda que “...crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore”, visto que embora sendo uma hortaliça, chega a atingir até quatro metros de altura. Nós acrescentamos que a Igreja do Senhor, contida no cristianismo, se destacaria na imensa Horta na qual o grão de mostarda foi plantado, que seria, infinitamente maior, do alto dos quatro metros de altura do Pé de Mostarda, deixando lá em baixo, sob ou rastejando sobre a Terra, os pés de pepinos, alface, couve e diversas outras hortaliças que bem podem representar as “grandes religiões” fundadas por homens como Confúcio, Buda, Maomé, e tantos outros. Existe, pois, um consenso sobre A Verdade Central que o Senhor Jesus quis revelar ao propor A Parábola do Grão de Mostarda. Ela diz respeito ao crescimento da Igreja que foi fundada no calvário, inaugurada no pentecoste, e que, hoje, está em toda a Terra, mas que, em breve estará no Céu.

A Igreja do Senhor Jesus começou à semelhança de “um grão de Mostarda”. Tão pequeno, quase imperceptível, sem nenhuma aparência exterior, foi assim que tudo começou quando “...o Semeador saiu a semear”. O Semeador não era um professor, um pós-graduado numa Universidade famosa como a nossa USP, a SORBONE, dos franceses, a HARVARD, dos americanos, ou nem mesmo numa famosa, daquela época, situada em Roma, em Alexandria, ou em Jerusalém. Pelo contrário, o Semeador, diante dos mestres de Israel, dos escribas, dos fariseus, dos sacerdotes, do ponto de vista humano, era como “um grão de mostarda”, pois era, apenas, um jovem carpinteiro que cresceu, trabalhou e estudou na humilde aldeia de Nazaré, na Galiléia, de onde, segundo observou Natanael, “alguma coisa boa” não podia vir (João 1:46). O Semeador por ser semelhante “ao grão de mostarda”, um carpinteiro, e filho de carpinteiro, que nunca tinha estudado numa escola famosa, quando pela primeira vez ensinou na sinagoga de sua cidade, embora seus conterrâneos se maravilhassem “...das palavras de graça que saiam de sua boca...”, o discriminaram, e não aceitaram seu ensino, dizendo: “Não é este o filho de José?”... “E levantando-se, o expulsaram da cidade e o levaram até o cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem”( Lucas 2:22-29).

Nesta Lição, contudo, vamos aprender que “o grão de mostarda” cresceu, fez-se árvore, estendeu “seus ramos”, alcançou toda a Terra, e é hoje esta “...Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”( Efésios 5:27).

I – A SEMENTE DE MOSTARDA(Mt 13:31)

1) O grão de mostarda(v.31) – A palavra mostarda é de origem egípcia(sinapis) e aparece por cinco vezes nos três primeiros Evangelhos(Mt 13:31;17:20; Mc 4:31; Lc 13:19:17:6). Famosa como condimento ou por suas propriedades medicinais, a mostarda era tida pelos antigos helenos como um presente do deus da cura, Asclépio (ou Esculápio), e era usada como alívio para dores musculares. É uma das mais antigas hortaliças conhecidas, tendo sido utilizada, desde as mais remotas eras, para a produção de condimentos. É popularmente conhecida como tempero inseparável de hot-dogs,. Sua história pode ser traçada até três mil anos atrás, quando era amplamente utilizada por egípcios, gregos, romanos e povos asiáticos.

Não resta dúvida de que a ilustração feita por Jesus pegou a todos de surpresa. Ao falar no reino dos céus (ou reino de Deus, nos evangelhos segundo escreveram Marcos e Lucas), seria natural que os ouvintes do Mestre se voltassem aos tempos gloriosos do reinado de Salomão, ou, quem sabe, ao período de grandes vitórias militares de Davi. Até mesmo, alguém poderia esperar que Jesus fosse comparar o reino de Deus à glória de Roma, então a senhora do mundo, ou aos esplendores passados dos impérios babilônio, persa ou grego, mas, ao trazer a figura do reino de Deus, Jesus não usa de coisa alguma que fosse humana. Talvez se esperasse que a melhor imagem do reino de Deus fosse o leão, este majestoso animal que, até hoje, é denominado de “o rei dos animais”. Aliás, não era o leão o símbolo da tribo de Judá, a tribo real, a descendência de Davi, de onde proviria o Messias (Gn.49:9)? E se fosse escolhida uma imagem no reino vegetal, não seria o reino de Deus apropriadamente representado pela oliveira, ou, então, pela figueira ou a videira, árvores excelentes, que tanto bem traziam ao ser humano e cujos frutos eram assaz benéficos e desejáveis e que, inclusive, já tinham tido suas virtudes mencionadas em conhecida parábola das Escrituras hebraicas (Jz.9:8-13)? No entanto, Jesus preferiu apresentar como figura do reino de Deus o grão de mostarda. Jesus queria que os discípulos entendessem que mesmo uma semente tão pequena é capaz de produzir um grande resultado.

2) A lição dos contrastes - O reino de Deus é comparado ao grão de mostarda, algo comum, algo insignificante, pois o grão de mostarda é uma das menores sementes de hortaliças, para dizer, do seu inigualável modo de ensinar, que o reino de Deus, da mesma maneira, é, inicialmente, algo muito pequeno e insignificante, aos olhos da sociedade, assim como o grão de mostarda. Jesus não escolheu o grão de mostarda por acaso. A mostarda é, talvez, o mais eloqüente exemplo de crescimento que existe, pois, sendo a sua semente uma das menores que existe, é a maior das hortaliças, alcançando, no seu ano de vida, um crescimento vertiginoso. Muitos procuram objetar a parábola, dizendo que existem árvores maiores do que a mostarda, o que leva, inclusive, alguns estudiosos a, desesperadamente, quererem provar que, no Oriente, os pés de mostarda alcançam grandes alturas, como se isto fosse essencial para atribuir veracidade aos ensinos de Jesus. Jesus, aqui, não está preocupado com o valor absoluto, ou seja, com o tamanho da mostarda diante de outras árvores, mas, sim, com o valor relativo, isto é, com a grande diferença entre o tamanho da semente e o crescimento alcançado pela planta e tudo isto num pequeno intervalo de tempo, já que, como dissemos, a mostarda tem uma duração de vida bem curta (no Brasil, a EMBRAPA estima em 130 dias o período de colheita depois da semeadura).

A comparação com o grão de mostarda tem a ver, portanto, com o crescimento do reino de Deus. O reino de Deus, embora seja insignificante em seu início, não tenha qualquer parecer ou formosura, a exemplo do seu introdutor(Jesus)-Isaias 53:2, uma vez plantado, tem um crescimento rápido e espantoso, crescimento este que, também, ao contrário das árvores perenes, que perduraram por anos (algumas até por séculos, como é o caso das sequóias e dos carvalhos), é uma instituição que não foi feita para durar, mas para ser, também, rapidamente colhida assim que seu fruto estiver pronto para ser consumido.

A obra de Deus não vive de aparência nem deve se preocupar com ela. Os testemunhos, através dos séculos da história da igreja, sempre foram os mesmos: o trabalhar de Deus começou de modo insignificante, totalmente despercebido dos homens, mas teve sempre um crescimento vertiginoso, rápido e inimaginável. Quem poderia achar que uma pequena reunião, como as que começaram a se realizar na famosa rua Azuza, nos Estados Unidos, iria redundar no movimento pentecostal que existe há pouco mais de cem anos e que está em todo o mundo? Quem poderia ver em dois estrangeiros que viam mangas em Belém do Pará, sem saber o que eram, os iniciadores de um movimento como são as Assembléias de Deus no Brasil, pouco mais de 90 anos depois? Este é o trabalhar do reino de Deus e Jesus nos ensina que assim há de ser até o dia em que se der o final desta dispensação.

3) O poder misterioso da fé - O grão de mostarda, em outra ocasião, foi usado por Jesus para outra comparação, desta feita, com a fé. Em Mt.17:20, Jesus recomenda os discípulos a terem uma fé como um grão de mostarda, passagem que, aliás, é mal interpretada, pois se costuma dizer que se a fé tiver o tamanho de um grão de mostarda, teremos o suficiente para transpor os montes, quando, na verdade, Jesus, aqui, uma vez mais, retoma a ilustração do grão de mostarda para nos ensinar que a fé é algo que tem condições de crescer vertiginosamente, assim como o pequenino grão de mostarda dá origem à maior das hortaliças. Esta comparação de Jesus com o grão de mostarda para nos indicar a fé, serve-nos, também, para entender que é Jesus quem lança no mundo a fé. Por isso, certa feita, o Senhor indagou aos seus discípulos se, porventura, o Filho do homem acharia fé na terra (Lc.18:8b). A fé não pode ser produzida pelo homem, tem de ser lançada pelo semeador, pelo homem da parábola do grão de mostarda, que a lançou na horta (Lc.13:19). A fé salvadora é um dom de Deus (Ef.2:8), vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Portanto, para que se tenha o início do crescimento do reino de Deus, faz-se necessário, em primeiro lugar, que o grão de mostarda seja plantado, e esta plantação somente se dará mediante a pregação da Palavra de Deus.

4) O campo de semeadura(v.31) - “...O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo”(Mt 13:31). Há quem afirme que o “campo é um sistema de ação demoníaca comandado pelo Diabo” visto que “todo o mundo está no maligno”(I João 5:19). Para nós, o campo é o mesmo tanto na Parábola do Semeador, na do Trigo e do Joio, como, também, na do Grão de Mostarda. O campo é, na verdade, o mundo, mas, não o mundo, no sentido espiritual, aquele que “está no maligno”, mas, no sentido físico, aquele que tem como sua base territorial, a Terra. O Dono do Campo também é o mesmo nas três Parábolas, sendo aquele que disse : “...toda a terra é minha”(Êx 19:5). É, pois, na Terra o “campo” onde a Igreja, como representante do Reino de Deus, está sendo formada.

As sete Parábolas descritas no capitulo 13, de Mateus, retratam a história da Igreja, aqui na Terra, desde sua origem, à semelhança do “grão de mostarda” até o Dia do Arrebatamento, então, como sendo aquela “...Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”(Ef 5:27). Assim, se lá no principio, ela foi fundada sem qualquer “aparência exterior”, aqui ela é descrita por Paulo como sendo uma Igreja Gloriosa. Assim, se lá no principio, estavam reunidos no Cenáculo apenas “quase cento e vinte pessoas”(Atos 1:15), no futuro, lá no céu, o apóstolo João que havia dado o número dos anjos como sendo de “milhões de milhões e milhares de milhares”(Ap 5:11), não arriscou um número para calcular a multidão que compunha a Igreja, limitando-se a dizer: “Depois destas coisas, olhei, e eis aqui um multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, e povos, e línguas, estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos”(Ap 7:9). E pensar que tudo começou à semelhança de “um Grão de Mostarda”!!!

5) A lição do crescimento - A Bíblia diz que temos de ser imitadores de Cristo (I Co.11:1).Paulo, nesta passagem, diz que imitou Jesus e, com efeito, quando lemos I Co.3:6, vemos que, efetivamente, o apóstolo plantou o grão de mostarda. O grão de mostarda é, na espécie mais conhecida, de cor negra, sem qualquer beleza exterior e que tem um gosto azedo, picante, que só se tornará a conhecida “mostarda” dos nossos hot-dogs depois de devidamente misturada com sal, vinagre e outras plantas aromáticas. Assim é o Evangelho que temos de pregar: simples, insignificante, que é azedo, ou seja, incomoda e nos obriga a mudar de vida, mas que nos permitirá ter um crescimento espiritual inigualável e nos levará para as mansões celestiais, não só a nós mas a tantos quantos se arrependerem de seus pecados (aliás, por ser azedo é que o evangelho leva o homem ao arrependimento e confissão de seus pecados, que é o primeiro passo para a salvação). Um fato deve ser salientado, é que Jesus não estava apenas empenhado em crescimento numérico de discípulos, mas também em mostrar outro elemento fundamental para se avaliar o desenvolvimento do Reino de Deus: o qualitativo.

II – A GRANDE ÁRVORE(Mt 13:32)

1) A forma de crescimento - “...mas, crescendo, é a maior das plantas”. Como a Verdade Central desta Parábola era a de ensinar sobre o rápido crescimento da Igreja, embora começando sem qualquer aparência exterior, é claro que o Senhor Jesus não iria usar a figura de uma árvore, como a figueira, ou a oliveira, ou qualquer outra que demorasse muitos anos para se desenvolver, e dar frutos. Por falta de conhecimento sobre a interpretação das Parábolas, muitos não entendem porque ele usou o Grão de Mostarda. Ele usou, certamente, porque a mostarda é uma das hortaliças e as hortaliças crescem de uma maneira muito mais rápida que as árvores de outras espécies. Com efeito, a Igreja que começou com “o Semeador” que “saiu a semear”, que foi inaugurada no Pentecoste, quando ali no Cenáculo estavam reunidos “quase cento e vinte pessoas”(Atos 1:15), começou a crescer tal como cresce uma hortaliça, conforme podemos constatar pelo livro de Atos dos Apóstolos. Logo no dia da inauguração, após a pregação de Pedro, “O Pé de Mostarda” teve um considerável crescimento – “...agregaram-se quase três mil almas”(Atos 2:41). O Pé de Mostarda não parou mais de crescer. Em Atos 4:4 lemos que “Muitos dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a “quase cinco mil”. O número, agora já não dava para contar, falava-se em multidão – “E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais”(Atos 5:14). Depois passou a falar-se em multiplicação – “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos e grande parte dos Sacerdotes obedecia a fé “(Atos 6:7). Em seu crescimento, “ O Pé de Mostarda” começou a estender “seus ramos” para fora de Jerusalém – formavam-se as Igrejas Locais – como projeção dos “Ramos”- “...as igreja em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas, e se multiplicavam”(Atos 9:31).A Igreja cresceu tal como cresce uma hortaliça, no caso, a mostarda. Mostrar esse crescimento foi, de fato, o objetivo da Parábola do Grão de Mostarda. Pouco mais de trinta anos depois de sua fundação, a Igreja já havia alcançado todo o Império Romano, o que significa dizer que a Igreja havia chegado “...aos confins da terra”(Atos 1:8), conforme declaração de Paulo, quando falando do “...evangelho que já chegou a vós, como também está em todo o mundo”(Cl 1:5-6). Continuando a crescer... Chegou até nós!

2) As ameaças ao crescimento - O crescimento do reino de Deus sempre tem gerado o surgimento de ninhos de aves dos céus no meio do povo de Deus, com grandes malefícios para a obra de Deus. Quando olhamos o nosso país, neste início do século XXI, não podemos deixar de ver a repetição do que aconteceu nos dias de Constantino. Hoje, o povo de Deus já não é mais tão perseguido como antigamente, mas a arma do inimigo não tem sido mais o uso de fogueiras de bíblias ou as pedras que, décadas atrás, eram atiradas nos pequenos salõezinhos ou humildes templos dos nossos irmãos. Hoje em dia, o adversário não mais precisa fazer uso destes expedientes, porque já tem grandes ninhos na mostarda adulta, ninhos como os interesses político-partidários de alguns, o mercantilismo de outros, a vida fácil e luxuosa de muitos. Para muitos, as igrejas locais passaram a ser meio de vida, fonte de sobrevivência, causa de lucro, assim como fora predito nas Santas Escrituras (II Pe.2:1-3). O resultado deste estado de coisas é o prejuízo para a obra de Deus, o início da perda de esplendor da mostarda adulta.

3) O significado de “grande árvore”(v.32) -- “...o qual é realmentee a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e se faz árvore...”(Mt 13). O maior problema dos diversos teólogos, e Comentaristas está no fato do Crescimento do Grão de Mostarda, que, “crescendo, é a maior das plantas e se faz uma árvore”. Lucas complica ainda mais a situação ao acrescentar a expressão “grande”- “...e fez-se grande árvore...”(Lc 13:19). Assim, muitos dos “nossos” comentaristas, sem, contudo, fugirem da Verdade Central da Parábola, classificam este crescimento de anormal. Do ponto de vista material, a expressão “crescendo é a maior das plantas e faz-se uma árvore” não é de difícil entendimento. Jesus era um Galileu e, naquele momento estava falando aos galileus, na sua grande maioria, agricultores, homens que conheciam a terra e as sementes que nela eram semeadas naquela região. Sabiam que a semente da mostarda era a menor de todas as sementes que eles semeavam. Sabiam, também, que o pé de mostarda, chamado de mostardeira, como hortaliça, era “a maior das plantas”, pois podia chegar, como eles afirmavam, até a altura de “um homem à cavalo. Nós, hoje, dizemos que, em média, o pé de mostarda alcança entre 3 e 4 metros de altura. Assim, como Jesus, em suas Parábolas, usava sempre as coisas que os seus ouvintes conheciam, ou seja, as coisas vistas, ou usadas no dia a dia, nenhum agricultor Galileu estranhou sua afirmação. É claro, portanto, que a expressão usada por Jesus de que “o grão de mostarda” “...crescendo, é a maior das plantas e faz-se arvore”, estava relacionada às demais plantas de sua espécie, ou seja, entre as plantas herbáceas e leguminosas, cultivadas em hortas, e empregadas na alimentação humana, como couve, alface, cenoura, e tantas outras. Numa horta onde haja diversas hortaliças, existindo um pé de mostarda, certamente que ele se destacará por ser “a maior das plantas”, tal como uma árvore. Na grande Horta, formada por toda Terra, “O pé de mostarda”, ou a Igreja do Senhor Jesus Cristo tem que se destacar dentre todas as demais “hortaliças” cultivadas pelos homens. Certamente que não foi sem razão que Jesus fez uso do “Grão de Mostarda” para ensinar sobre o Crescimento da Igreja. Acreditamos que, se o seu objetivo fosse o de ensinar sobre o esplendor e a firmeza de sua Igreja, então teria usado o cedro, como fez no Antigo Testamento, em referencia ao seu Reino, no futuro, ou seja o Reino Milenial(Ler Ez 17:22-23). Lá na Galiléia, o objetivo de Jesus era ensinar sobre a Expansão do Reino dos Céus. Por Isto usou uma hortaliça, porque a hortaliça não leva dezenas de anos para crescer, e dar frutos, tal como uma figueira. Assim, o fato do “Grão de mostarda” “...crescendo” tornar-se a maior de todas as hortaliças, é fácil de entender. Porém, o fato de tornar-se uma grande árvore” em cujos ramos se “aninham” as aves do céu, parece, realmente, haver um mistério. Paulo diria – “Grande é este mistério...” (Ef 5:22). Mistério é tudo aquilo que a razão não pode explicar, ou compreender. Assim, para nós há um mistério que envolve o Crescimento da Igreja. Certamente que ninguém nunca pôde explicar, ou compreender; ninguém, hoje, pode explicar, ou compreender; ninguém poderá, amanhã, explicar, ou compreender o Mistério do Crescimento da Igreja. Um “pé de hortaliça” espalhar seus “ramos” por toda Terra é um milagre – mas, ninguém poderá ser crente se não puder crer em milagres. O Milagre contraria as leis da natureza. Por isto não é explicável pela Ciência, ou pela razão humana. É possível que o Senhor Jesus quisesse ensinar que o Crescimento da Igreja seria para o mundo um mistério, e para nós, um milagre. Como ninguém perguntou como isto aconteceria, então ele deixou para que nós tentássemos descobrir.

A Igreja, cerca de 33 ou 34 anos após sua fundação, já estava “em todo o mundo”, conforme declarou Paulo, falando do “...evangelho que já chegou a vós, como também está em todo o mundo...”(Cl 1:5-6). O “Pé de Mostarda”, ou a Mostardeira continuou através dos séculos a estender seus ramos por toda a Terra... e chegou até nós! Assim, em lugar de vermos um crescimento anormal, no sentido deformativo, preferimos ver o crescimento da Igreja como a operação de um milagre, no sentido positivo, promovendo o crescimento do Corpo de Cristo.

III – AS AVES DO CÉU(Mt 13:32)

“...de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos”. A maioria dos comentariastas divergem sobre a simbologia das “aves do céu” que “se aninham” nos “ramos” do “pé de mostarda”. Entendem uns que elas representam “Satanás e seus demônios”, o que nos causa estranheza. No caso do Joio, o Senhor disse que ele foi semeado “no meio do trigo”, ou seja, entre os pés de trigo. Porém, as aves não fazem seus ninhos entre os ramos, mas, nos ramos. Assim, temos dificuldade para aceitar Satanás e seus demônios “aninhados” na Igreja, que é a Noiva do Cordeiro. Não podemos aceitar esta interpretação.

Outros afirmam que essas “aves do céu” representam os pecadores, os incrédulos, na pessoa de políticos e outros oportunistas que procuram se infiltrar na Igreja, com aparência de crente, para dela tirar algum tipo de vantagens pessoais, e materiais. Porém, a maioria dos crentes discordam, também, sejam esses “oportunistas” estas “aves do céu”, embora acreditemos que eles, de fato, estejam infiltrados no meio do Povo de Deus, mas, na condição de Joio, conforme o Senhor Jesus se referiu na parábola do Trigo e do Joio.

Outros identificam “as aves do Céu” como sendo os gentios, que desde o Centurião Cornélio, sua família, e seus amigos, continuam encontrando nos “Ramos do Pé de Mostarda”, um lugar seguro onde podem descansar, após aceitarem o convite de Jesus – “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”(Mt 11:28). Certamente que a Horta onde o “Grão de Mostarda” foi semeado, não era, apenas, o território da Nação de Israel.

Nós concordamos que as “aves do Céu” simbolizam os gentios. Ora, sabemos que os gentios são, precisamente, as nações que, desde Babel, se rebelaram contra Deus e se puseram sob o domínio do pecado. Os gentios são, exatamente, aqueles que não se convertem a Deus e que fazem parte deste sistema mundial que somente será destruído por ocasião da derrota do Anticristo e do Falso Profeta no Armagedom. Deste modo, como são filhos da desobediência, verdadeiros filhos do diabo, vemos até como filigrana a discussão de alguns no sentido de identificar estas aves como pessoas sob o domínio do diabo ou com o próprio diabo e seus anjos. Podemos dizer que as aves simbolizam tanto um quanto outro, pois, quando as pessoas agem sob a influência de Satanás, é como se o próprio Satanás esteja agindo, como, aliás, bem demonstrou Jesus no episódio em que Pedro foi usado pelo diabo (Mt.16:22,23), episódio, aliás, que ocorreu pouco depois de Jesus ter dito que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja. Oportunista por excelência, o diabo usa do próprio crescimento do reino de Deus para tentar destruir a obra de Deus. Seu trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10), não medindo esforços para tentar cirandar com os servos de Deus (Lc.22:31). Ele está sempre rugindo como leão buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8). O diabo é nosso adversário e, por isso, é chamado de “Satanás”, que, em hebraico, significa “adversário”. O próprio crescimento da obra de Deus é uma oportunidade que, se não vigiarmos, será criada pelo diabo para criar ninhos no meio do povo de Deus e ali estabelecer suas cidadelas, seus agentes, de modo a trazer confusão e prejuízo ao reino de Deus. Na própria história da Igreja, temos visto isto acontecer. O desvio espiritual que gerou o “cristianismo apóstata” é produto direto do crescimento do reino de Deus. O final da perseguição, o reconhecimento da liberdade de culto para os cristãos no Império Romano, que era um nítido triunfo, uma bênção para o reino de Deus, transformou-se em uma armadilha na qual cedo caíram muitos que, embriagados pelo poder terreno, acabaram por permitir a entrada indiscriminada do paganismo no meio do reino de Deus, a ponto até de o bispo de Roma ter se tornado o sacerdote supremo do culto babilônico ! O resultado é o que vemos hoje, um “cristianismo” que segue dogmas, festas e preceitos totalmente dissociados dos ensinos da Palavra de Deus, Palavra esta, aliás, que chegou a ser um dos “livros proibidos” nos tempos negros da Inquisição nas Idades Média e Moderna.

Assim, embora divergindo sobre as questões secundárias, todos concordamos com a Verdade Central que fala sobre o crescimento da Igreja, ou a expansão do Reino dos Céus.

IV – CONCLUSÃO

Tomemos cuidado, porque a hora da colheita está chegando e, quando chegar a ceifa, as aves, certamente, baterão em retirada, levando consigo todos aqueles que não tiverem dado fruto, porque se desligaram da planta e se recolheram ao conforto e mordomia dos ninhos. Estes não serão colhidos, estes não serão alojados no celeiro, mas, juntamente com as aves, a quem está destinado o lago de fogo e enxofre (Mt.25:41), sofrerão eternamente (Mt.13:42).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.

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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

A DIFERENÇA ENTRE O JUSTO E O INJUSTO












Leitura Bíblica: Mateus 13:24-30
INTRODUÇÃO
A segunda parábola de Jesus que estaremos estudando neste trimestre é a parábola do joio e do trigo, que se encontra no conjunto das sete parábolas do reino de Deus, no capítulo 13 de Mateus, não tendo sido reproduzida em nenhum outro evangelho sinótico. Trata-se, de mais um ensinamento de Cristo a respeito do reino de Deus (ou “reino dos céus”, como é designado no evangelho segundo Mateus), onde o Senhor procura mostrar aos seus discípulos o significado deste reino e a natureza deste reino, onde entramos quando nascemos de novo. Trata-se, portanto, de mais uma parábola que tem interpretação autêntica, ou seja, cuja interpretação foi dada pelo próprio autor da parábola, motivo por que não devemos, assim, especular além do que já foi objeto de interpretação nas Escrituras. Ao contrário da parábola do semeador, onde o Senhor quis ensinar sobre a distinção entre justo e injusto pela frutificação, aqui o objetivo do ensino é mostrar que, no mundo, sempre haverá justos e injustos e que cabe apenas ao Senhor a separação final deles, no instante final da história.
A parábola do joio e do trigo tem sido muito utilizada para se justificar a presença do pecado no meio da igreja, mas não é esta uma aplicação correta da parábola, vez que a colheita final, em momento algum, representa a abolição da disciplina.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo. Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se”(Mt 13:24-25).
Toda Parábola tem uma Verdade Central, que nós chamamos de Núcleo da Parábola. Assim, é necessário entender qual é essa Verdade Central que vai interessar para o nosso estudo e não pretender usar os demais elementos utilizados para dar corpo à Parábola, como fontes de outros princípios doutrinários.
Ressalta-se ainda que o Senhor Jesus não usou nenhuma Parábola como fundamento primário das Doutrinas Bíblicas. No Novo Testamento as Parábolas foram elaboradas para revelar os mistérios do Reino. Uma das razões do uso das Parábolas com esse objetivo foi para que apenas aqueles que fazem parte do Reino pudessem conhecer suas verdades profundas, ou seus mistérios, conforme o Senhor Jesus declarou aos seus Discípulos – “...Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é dado; porque àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso, falo por parábolas, porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendam”(Mt 13:11-13). No Núcleo de cada Parábola encontramos o Senhor Jesus e o Seu Reino.
1 – Jesus na Parábola do Joio e do Trigo - “...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo”. Este Homem “que semeia a boa semente” é uma figura de Jesus. Ele é este Homem. Continua sendo o mesmo Homem da Parábola do Semeador, aquele “semeador que saiu a semear” e que, após sua Ressurreição, encarregou seus discípulos de continuarem a Semeadura, por todo o mundo. Ali a Semente era, e continua sendo, A Palavra de Deus.
2 – A Semente na Parábola do Joio e do Trigo - Não é a mesma Semente da Parábola do Semeador. Aqui, na Parábola do Joio e do Trigo, a Semente não é a Palavra, mas, as pessoas que foram alcançadas pela Palavra de Deus. Portanto, nesta Parábola tanto o Trigo como também o Joio referem-se aos homens, às pessoas.
A “boa semente” são os crentes salvos, aqueles que após ouvirem A Palavra de Deus, creram, e aceitaram o Senhor Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, tornando-se “filhos do Reino”, conforme afirmou o próprio Jesus – “... a boa semente são os filhos do Reino”.
A má semente, ou o Joio, são os filhos do Reino, deste mundo, do qual Satanás é seu Príncipe, conforme a ele se referiu Jesus, quando disse – “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o Príncipe deste mundo e nada tem em mim”(João 14:30). Aqui o Senhor se referiu a ele como “Maligno”, ao identificar o joio – “...o joio são os filhos do Maligno”(Mt 13:39). Assim, na Parábola do Joio e do Trigo, os “filhos do Reino” representam o “bem” e os “filhos do Maligno” representam o “mal”.
Portanto, a Verdade Central que o Senhor Jesus estava ensinando é a de que, aqui na Terra, o Bem e o Mal teriam que conviver, lado a lado, até o fim. Enquanto que na Parábola do Semeador a Verdade Central é que a Palavra de Deus deve ser pregada e ensinada a todos os homens, não importando a forma com que estes a recebam – a ordem é anunciar a Palavra, quer as pessoas aceitem, ou não – A missão do Semeador é Semear, a tempo e fora de tempo.
I – O CAMPO DE PLANTIO(v.24)
“...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo”. O Campo, aqui, continua sendo o mesmo da Parábola do Semeador. Ali a Semente, representando a Palavra de Deus, foi semeada; aqui temos o trigo como resultado da semeadura.
O Campo é o mundo, cuja base territorial é a Terra. Conforme vimos na Parábola do Semeador o Senhor Jesus falou em quatro qualidades de solo. Sendo que, na simbologia bíblica, o numero quatro é o numero da Terra, subentende-se que o campo é toda a Terra. Por esta razão o Senhor Jesus afirmou que “...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo”.
Jesus é o Dono do Campo. Ele semeia “no seu campo- Ele é o Senhor e único dono do Campo. Os servos referidos na Parábola, que representam, também, os servos, de hoje, tinham consciência que eles não eram donos e nem sócios do campo, mas que trabalhavam para o Dono, a quem chamavam de SenhorE os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem então joio?” Para a Bíblia, em relação ao Campo, existem os servos e o Senhor, o qual é seu único Dono. A Bíblia não conhece a figura do servo, como dono, do arrendatário ou do sócio. Ele, o Senhor, é o dono e semeia no que é seu. A Terra, como base territorial do mundo, pertence ao Senhor por direito de criação e por direito de preservação“No principio, criou Deus os céus e a terra”(Gn 1:1). “O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada”(Jó 26:7). Suspensa sobre o nada, certamente que a Terra é sustentada e preservada pelo seu Poder. Deus nunca abriu mão de seu direito como proprietário da Terra. Não apenas a Palavra de Deus diz que “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habita”(Sl 24:1), como Ele próprio, pessoalmente, diz – “...porque toda a terra é minha”(Ex 19:5). É certo que Ele nunca transferiu nem sua posse, nem sua propriedade para ninguém. O campo, diz Jesus, representa o mundo (Mt.13:38), entendido mundo aqui como o mundo físico, ou seja, o planeta Terra onde os homens habitam. Este campo, explicou Jesus, é do Homem, ou seja, é propriedade de Jesus. Fazemos questão de enfatizar este aspecto porque se têm introduzido doutrinas no meio evangélico que negam que Jesus seja o dono do mundo ou que Deus seja o dono do mundo, insistindo em dizer que o mundo, com o pecado, caiu sob o domínio de Satanás, que, assim, se comporta como verdadeiro usurpador. Dizem estes que, com o pecado, o homem passou o domínio do mundo, que lhe fora confiado por Deus quando de sua criação, ao inimigo e que, por isso, o diabo teria hoje “legalidade” para governar o mundo, motivo por que, aliás, a Bíblia o chamaria de “deus deste século” e de “príncipe deste mundo”. Entretanto, esta versão não tem respaldo bíblico. O homem encontra-se, sim, dominado pelo pecado, a partir do momento que, adquirindo consciência, peca, já que herdou a natureza pecaminosa do primeiro casal. Este domínio do pecado sobre si, que Deus já havia previsto quando se dirigiu a Caim (Gn.4:7) e que é tão bem descrito por Paulo na carta aos romanos (Rm.7:14-24), gera uma escravidão do homem em relação ao pecado (Jo.8:34), sujeitando-o ao diabo (Jo.8:44). Vemos, portanto, que, por causa do pecado, o homem é escravizado e passa a fazer a vontade do inimigo, mas isto não transforma o mundo físico em propriedade e nem sequer em área possuída pelo adversário. O campo é do homem que semeia a boa semente, ensina-nos Jesus. O Senhor continua no controle da situação e o inimigo apenas tem permissão para atuar, quando os homens estão dormindo, para fazer a sua semeadura e dali sair. Vejamos que o inimigo, em momento algum, domina o campo e nem sequer parte dele, mas tão somente, na ausência de vigilância dos homens, lança a sua semente má no meio da boa semente. O campo, portanto, continua sendo do homem que semeia a boa semente, que jamais perde a sua autoridade e domínio.
Conforme afirmamos, as Parábolas dizem respeito a Jesus e a seu Reino. Assim é que, na Parábola do Joio e do Trigo, o Senhor Jesus, facilmente é identificado como sendo o “homem que semeia boa semente no seu campo”. O mesmo que é chamado pelos servos de “pai de família”.
II – OS DOIS SEMEADORES(Mt 13:24,25)
Ao analisar os versículos 24 e 25 percebe-se que Jesus referiu-se aos dois semeadores como “o homem e o seu campo”(v.24) e “o inimigo”(v.25), que às escondidas entrou ali e semeou o joio do mal. O inimigo semeou joio, que é uma planta muito semelhante ao trigo, exatamente porque sabe que há uma tendência dos homens de julgarem segundo a aparência. Sigamos o conselho de Jesus e jamais permitamos que a aparência seja o nosso critério de julgamento, especialmente quando se trata de assuntos de ordem espiritual. A semeadura do proprietário e a semeadura do inimigo fizeram-se sem testemunhas, de modo oculto às vistas e não será senão pela frutificação que teremos condições de saber o que é e o que não é de Deus.
Notamos, também, que, após ter semeado o joio no campo, o inimigo se retirou. Aqui há uma diferença de caráter entre o proprietário e o inimigo. O proprietário é alguém que fica no campo, que semeou a boa semente sem testemunhas, assim como o inimigo, de forma imperceptível aos olhos dos seus servos, mas é alguém que não abandona o campo, que está sempre presente, que cuida do campo, que o mantém e o conserva até o dia da ceifa. Jesus é assim. Não só criou o mundo e todas as coisas que existem (Jo.1:1,3), como também as sustenta até o presente instante (Cl.1:17; Hb.1:3). Jesus não é um Deus que criou o mundo e depois o abandonou. Muito pelo contrário, é um Deus participativo, que promete estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20). Não nos esqueçamos disto! Muitas vezes nos sentimos sós, desamparados, e o desânimo parece inevitável, mas fiel é o que prometeu e, por isso, não deixe de sentir ao seu lado a presença do nosso amado Salvador. Ele é o proprietário que jamais abandona a boa semente do campo!
Assim não é o inimigo. A parábola fala que, após ter feito a sua semeadura, também sem testemunhas, às escondidas, aproveitando-se da falta de vigilância dos homens, o inimigo se retirou. O diabo não é companheiro, mas, como diz o seu nome, é um acusador. É aquele que não perdoa o ser humano e que, depois de tê-lo tentado e ludibriado, é o primeiro a exigir a condenação do pobre pecador. Ele vive de um lado para outro deste mundo, atormentando e achando ocasião para acusar, de dia e de noite, os homens, principalmente aqueles que se dispõem a servir ao Senhor (Ap.12:10). Furtivamente, o diabo lança a sua semente no mundo, mas não impera sobre ele, tem de se retirar, porque o campo tem dono e este dono é o Senhor Jesus.
1) Jesus, o semeador de seu próprio campo - A parábola mostra-nos, ainda, que o semeador tem controle sobre todo o campo, é seu proprietário e seu senhorio é exercido plenamente, ainda que tenha havido permissão para a semeadura por parte do inimigo, por falha que não é sua, mas conseqüência da falta de vigilância dos homens, a quem havia sido atribuída a tarefa de guardar o campo. O fato de ter sido semeado o joio e de ele até crescer juntamente com o trigo em nada abala os propósitos do dono do campo. Ele havia plantado a boa semente para colhê-la e levá-la ao celeiro e é exatamente isto que irá acontecer. O fato de ter nascido joio, de ele ter crescido, em nada mudou o plano. A parábola não registra sequer uma queda na safra, já que o joio não foi arrancado senão na hora da colheita, quando mal algum poderia ser feito ao trigo. A presença do joio só servirá para mostrar o poderio do dono do campo, visto que o joio será ceifado, amarrado e queimado.
2) O Diabo, o inimigo, semeia o joio no trigal de Cristo - O inimigo atua somente dentro dos limites da permissão. Conseguiu entrar no campo por causa da falta de vigilância dos homens, mas, se os homens não puderam entender o que aconteceu, isto não era fato surpreendente para o proprietário, tanto que ele bem explicou o que havia acontecido. O inimigo lançou sua semente e se retirou, porque não tinha condições de enfrentar o proprietário, nem mesmo de lutar por uma parcela do campo. A semente que ali lançou é má, não tem qualidade, assim como ele, mas será incapaz de alterar o rumo dos acontecimentos, não promoverá sequer queda de safra e, ao final, servirá apenas para que o senhor da casa seja glorificado e demonstre todo o seu poderio.
III – OS DOIS TIPOS DE SEMENTES(Mt 13:24,25)
Depois da retirada do inimigo, ninguém notou qualquer diferença no campo. O campo parecia estar como antes, como quando o semeador havia semeado a boa semente. A aparência era a mesma. A parábola mostra-nos, com muita clareza, que a existência de duas semeaduras no campo ficou imperceptível durante todo o tempo do cultivo. Joio e trigo são muito semelhantes e só se nota a sua diferença no instante da frutificação, que é a última etapa do desenvolvimento de uma safra. Atualmente, o Diabo continua disseminando o seu joio maligno para confundir os “trigos” do dono do Campo, através de falsos crentes, falsas bíblias, falsas igrejas, falso batismo com Espírito Santo, falsas línguas estranhas, falso louvor, falsos ensinamentos, falsos sermões, etc.
1) O joio(v.25) – O joio é uma planta herbácea parecida com o trigo no período de folhagem, no entanto, torna-se diferente ao florescer e frutificar. Suas sementes são tóxicas e que prejudicam o crescimento dos cereais. Ela é especialmente nociva ao trigo, sendo, portanto, uma erva daninha, uma “praga” muito conhecida dos agricultores nos tempos de Jesus. O seu nome científico é “lelium temulentum” ou “lolium temulentum”. Os que conhecem a forma da planta dizem que não é fácil distingui-la do trigo senão já nos estágios do desenvolvimento da espiga, porquanto esta tem forma diferente. Era comum na Palestina. Jesus diz que joio e trigo conviveram, de forma imperceptível para os homens, até o momento imediatamente anterior à colheita. De igual maneira, aos olhos humanos, filhos do reino e filhos do maligno conviverão até o momento imediatamente anterior ao final da história, que é a colheita. Durante toda a história da humanidade haverá homens fiéis a Deus e homens infiéis, justos e ímpios. O salmista bem retrata esta realidade no salmo primeiro, onde mostra a existência de justos e de pecadores. Embora de natureza diferente, eles se assemelham, eles são parecidos, assim como o joio é parecido com o trigo, tanto que o joio é até chamado de “trigo bastardo”.
O fato de a semente do inimigo ser o joio não é um mero acaso ou uma escolha aleatória de Jesus. Trata-se de mais um precioso ensinamento. O inimigo é astuto, é ardiloso. O apóstolo Paulo, mesmo, diz que não devemos ignorar os seus ardis (II Co.2:11), que sempre são astutas ciladas (Ef.6:11). Por isso, o adversário nunca virá de forma repugnante aos nossos olhos, mas, quase sempre virá como lobo em pele de cordeiro, como anjo de luz, deslizando como a serpente, a fim de dar o seu bote fatal. O diabo procura sempre imitar as coisas de Deus, a fim de confundir o ser humano. Assim, na antiga aliança, levantou falsos profetas, assim como, nos nossos dias, levanta falsos mestres, pessoas postas em nosso meio, assim como o joio foi posto no meio do trigo.
A parábola diz que a erva cresceu. Ao usar o termo “erva”, Jesus se refere tanto ao trigo quanto ao joio, pois ambos eram “ervas”, ambos pertencem à mesma família de vegetais, ambos são muito parecidos. Era impossível, durante o crescimento, distinguir entre o joio e o trigo. Quantas vezes não se deve ter projetado uma colheita pelo número de plantas que havia? Quantas vezes não foi o joio tratado como trigo ? Há muito evangelho falsificado sendo oferecido por aí e temos de ter cuidado, pois nem sempre é fácil a identificação.
2) O trigo( v.25) - O trigo, embora também seja uma planta da família das gramíneas, é uma planta herbácea anual, ou seja, uma erva que tem a vida de um ano, que produz o grão (cariopse) de que se extrai a farinha usada especialmente para o fabrico do pão. Como se pode perceber, portanto, ao contrário do joio, o trigo apresenta um fruto que é benéfico, que serve de matéria-prima para o alimento do homem, tem fruto que alimenta e que serve para o sustento da humanidade. Por isso, os filhos do reino foram simbolizados pelo trigo, porque são pessoas que produzem fruto bom para a humanidade, para o mundo, são indivíduos que promovem boas obras e, por elas, as pessoas glorificam a Deus que está nos céus (M.5:16). Enquanto o joio para nada serve e sua permanência no meio da lavoura só trará prejuízos ao trigo já frutificando, sendo, ainda, motivo para problemas de saúde para toda a humanidade, o trigo só serve de alimento e de sustento.
A diferença, portanto, entre o trigo e o joio só poderá ser constatado no momento em que se produzir o fruto. Por isso, no sermão do monte, Jesus avisou que somente pelos frutos seriam reconhecidos os falsos profetas (Mt.7:15-23), ensino que depois foi reproduzido pelos apóstolos, quando falaram acerca dos falsos mestres que se introduziriam no meio da igreja (II Tm.3:1-9, II Pe.2, Jd.3-19). Enquanto são semeados, enquanto crescem, são indiscerníveis aos homens, mas, no instante da frutificação, aí revelam toda a sua natureza. Enquanto o trigo serve para o bem, serve para alimento e sustento, o joio serve para o mal, apenas para danificar o trigo que está perto de si e os que seriam beneficiados pelo trigo.
Só quem tem a mente de Cristo, só quem tem discernimento espiritual poderá distinguir entre o trigo e o joio. A famosa expressão popular “separar o joio do trigo”, que surgiu por causa desta parábola de Jesus, não é algo que possa ser feito por qualquer um, mas só por aqueles que têm a mente de Cristo. Pelo nosso intelecto, pela erudição, não teremos condição alguma de discernirmos o joio do trigo.
IV – O TEMPO DA CEIFA
A separação entre o trigo e joio, ou seja, entre “os filhos de Deus” e “os filhos do maligno”(v.38) é inevitável, conforme pode-se perceber na interpretação desta Parábola, feita pelo seu próprio autor. 1) A primeira pergunta(v.27) – “Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem o joio?”- A resposta do Proprietário(Jesus) foi: “Um inimigo fez isso”(v.28)- É importante notar que o joio apareceu aos olhos dos servos do proprietário. Assim também as obras malignas aparecerão aos olhos espirituais dos servos do Senhor. Assim que viram o joio, os servos se dirigiram ao proprietário, para lhe indagar da origem daquele joio e o que deveriam fazer. Isto mostra que os servos do proprietário, ao mesmo tempo em que eram vigilantes, tinham intimidade e constante comunicação com o proprietário. Podemos mesmo dizer que o motivo de terem sido zelosos e vigilantes foi o fato de terem sido igualmente cuidadosos no seu relacionamento com o proprietário.Os servos do proprietário tiveram a correta atitude quando identificaram o joio: foram procurar a orientação do proprietário. Quando encontrarmos com obras dos filhos do maligno, quando detectarmos a presença do joio e de seu perigo, não devemos nos desesperar nem causar qualquer alarde. Devemos correr em direção ao proprietário do campo, em direção ao Senhor Jesus, que nos dará a correta orientação, a correta direção.
2) A segunda pergunta(v.28) – “Queres, pois, que vamos arranca-lo?” – A resposta do Proprietário(Jesus) foi: “ Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa...”(vv 29,30) – A lição que nos traz é a seguinte: operando o Senhor, satanás entra em ação para realizar sua obra maligna na vida do povo. Também, ele age muito pelo processo de imitação, isto é, pelo engano. Aprendemos, também, que não é nossa missão eliminar o joio do mal aqui, pois isso é trabalho dos anjos no futuro”.
O proprietário determinou aos servos que nada fizessem. Os servos queriam arrancar o joio, mas o dono da casa bem ponderou que isto iria trazer dano à plantação, pois, antes da colheita, o joio, certamente, ao ser arrancado levaria consigo algumas plantas de trigo, o que não estava, em absoluto, nos planos do dono do campo, que não quer que nenhum dos que lhe foram dados para semear se perca (Jo.6:39). Aqueles que estão nas mãos do Senhor, de modo algum Ele lançará fora (Jo.6:37). Estejamos, portanto, tranqüilos. Jesus é o dono do campo, foi ele quem lançou a semente, logo é dEle a responsabilidade de cuidar da sua Igreja. Façamos como os servos da parábola, que, embora não tenham gostado de ver o joio no meio do trigo, embora tivessem consciência de que o joio é danoso, não se atreveram a tirar eles mesmos o joio sem antes consultar o dono do campo. O dono, o maior interessado na preservação do trigo que havia plantado, mandou que eles deixassem o joio ali, até que chegasse o momento da ceifa, quando, então, o joio poderia ser retirado sem fazer mal ao trigo. Entretanto, devemos ter cuidado com interpretações que alguns dão no sentido de que não deve haver disciplina na igreja, já que o senhor do campo mandou que se deixasse o joio até a colheita. Entendem estas pessoas que, ante este gesto do proprietário, que é o Senhor Jesus, não poderiam os servos do Senhor, interpretados aqui como os ministros do evangelho, tomar qualquer providência disciplinar contra pessoas que estejam na igreja local, ainda que se perceba que sejam “filhos do maligno”, ou seja, joio, uma vez que Jesus teria mandado que se aguardasse o tempo da colheita. Assim, dizem eles, não caberia a ninguém, na igreja, a disciplina de um membro da igreja local, pois Jesus, com esta parábola teria nos ensinado que cabe a Ele tão somente o julgamento das pessoas, no dia do juízo final. Só que este entendimento não tem respaldo diante desta parábola, senão vejamos:
Em primeiro lugar, devemos lembrar, como vimos na lição 1, que nenhuma parábola pode ser utilizada para a criação de uma doutrina bíblica, pois as parábolas são histórias com as quais Jesus procura ilustrar a doutrina, ou seja, são histórias contadas para exemplificar, deixar claros ensinos já desenvolvidos pelo Senhor. Uma interpretação como a que estamos analisando nesta oportunidade nada mais é que a construção de uma doutrina com base em uma parábola que, aliás, só é registrada uma única vez no Evangelho.
Em segundo lugar, a interpretação parte do pressuposto de que os servos do proprietário são os ministros do Evangelho, ou seja, os encarregados do governo da Igreja, algo que não têm qualquer respaldo na parábola e, o que é mais grave, na interpretação que Jesus deu da palavra. Jesus não disse que os servos do proprietário seriam os ministros do Evangelho, seriam os responsáveis pelo governo da Igreja. Portanto, este pressuposto não pode ser aceito, não tem o respaldo das Escrituras, principalmente quando estamos diante de uma parábola que foi interpretada pelo próprio Jesus.
Em terceiro lugar, a interpretação considera que o joio sejam crentes que tenham praticado algum pecado na igreja local. Ora, este entendimento contradiz as próprias palavras de Jesus ao explicar a parábola. Jesus disse que o joio significa “os filhos do maligno”, ou seja, os ímpios, os pecadores. Não negamos que há pessoas ímpias que, mesmo não tendo se convertido, estão participando das igrejas locais, que são grupos sociais compostos tanto por salvos quanto por não convertidos. No entanto, o joio não se refere apenas a estes, até porque o campo não é a igreja, mas o mundo. Trata-se, portanto, de uma distorção das próprias palavras de Jesus e, assim, não podemos admitir como verdadeiro um ensino que contraria a própria Verdade.
Em quarto lugar, o próprio Jesus trouxe ensino a respeito da disciplina na Igreja, que se encontra em Mateus 18:15-19. Após ter sido anunciada a igreja, no capítulo 16, o evangelista nos traz o ensino de Jesus a respeito da disciplina eclesiástica, ensino este que, posteriormente, foi reproduzido por Paulo em mais de uma passagem, como vemos na primeira carta aos Coríntios (I Co.5) e nas epístolas pastorais(I Tm.5; Tt.2), bem assim o autor da epístola aos hebreus(Hb.12:5-11). A disciplina eclesiástica não se confunde com o julgamento final, pois a disciplina tem efeito curativo, é um remédio que é ministrado para salvar a pessoa, não uma condenação para a morte eterna, algo que, realmente, só pode ser efetuado pelo Senhor Jesus, que o fará por ocasião do julgamento final.
3) O tempo da ceifa – Jesus explicou que a colheita é o juízo inevitável que aproxima para os ímpios(vv 30,39-43). A colheita só pode acontecer no tempo certo, quando então os anjos farão a separação entre o joio e o trigo.
O tempo entre o aparecimento do joio e a colheita também representa o período em que Deus usa da sua longanimidade para com a humanidade, ou seja, revela que o Senhor não quer que os homens se percam, mas que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). Como a Bíblia afirma, Deus é tardio em irar-Se (Ex.34:6; Ne.9:17; Jl.2:13 e Na.1:3), daí porque espera antes de se apresentar como julgador. Deus é misericordioso e a sua misericórdia é a causa de não sermos consumidos assim que pecamos (Lm.3:22). Este tempo, porém, para os homens, têm um fim. O proprietário disse que era para deixar joio e trigo até o tempo da ceifa, até a hora da colheita. Neste instante, cessará este tempo e os ceifeiros, que Jesus diz que são os anjos, procederão a separação entre o joio e o trigo. A separação do joio e do trigo se dará apenas no tempo da ceifa, na hora da colheita, quando o campo cessará de ter razão para existir. Por isso esta colheita representa o julgamento final e não o arrebatamento da Igreja, como muitos interpretam erroneamente.
4) A ceifa no Juízo Final(v.30) - Jesus disse, ao explicar a parábola, que a ceifa é o fim do mundo (Mt.13:39) e não podemos distorcer a sua interpretação. O fim deste mundo se dará num momento imediatamente anterior ao julgamento final, como vemos em Ap.20:11-15. Nesta revelação que Jesus deu, por meio de seu anjo, a João, temos a confirmação do que foi ilustrado na parábola do joio. Em Ap.20:11, é visto um grande trono branco e quem sobre ele se assentava, tendo, então, fugido de sua presença os céus e a terra, não se achando lugar para eles. Este é o fim do mundo, este é o momento da ceifa, o instante da colheita, como descrito pelo Senhor na parábola do joio.
É válido ressaltar que a parábola do joio tem a ver com a relação entre o evangelho e o mundo, não com o evangelho e a Igreja. Os filhos do reino não são apenas a Igreja da dispensação da graça, mas é o trigo que será recolhido no celeiro, ou seja, todos os moradores da nova Jerusalém, que terá como habitantes não só os salvos durante a dispensação da graça, como os santos anteriores à vinda de Cristo, bem como os salvos durante a Grande Tribulação e durante o milênio.
O joio é colhido e atado em molhos. A atadura representa um instante em que o joio é reunido antes de ser queimado. Isto nos fala do julgamento. Entre a colheita e a queima há o instante da reunião de todo o joio que há no campo. Isto se dá por ocasião do julgamento final. Todo ser humano deverá ser submetido a julgamento. O Filho do homem é, por direito, o juiz dos vivos e dos mortos (At.10:42) e exercerá este juízo no tempo certo, logo após o fim do mundo.
V – CONCLUSÃO
A coexistência da igreja com o mal no tempo atual é um fato que esta Parábola transmite. Porém, o Senhor nosso Deus sabe a diferença entre o Justo e o Injusto, e, por mais parecidos que sejam, no aspecto exterior, “por ocasião da ceifa”, Ele, o Senhor, aquele que é Onisciente, ordenará a separação – “...e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio a atai-o em molhos para o queimar, mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”. O homem, enganado por Satanás, pensa que engana Deus, mas, Deus não se deixa enganar. No tempo da ceifa haverá, para sempre, a separação entre o bem e o mal – Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não serve”(Mq 3:18). Porque – “...o Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo, aparte-se da iniqüidade”(II Tm 2:19), porque o nosso Deus conhece A Diferença entre o Justo e o Injusto.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.