30 de out. de 2010

A DIFERENÇA ENTRE O JUSTO E O INJUSTO












Leitura Bíblica: Mateus 13:24-30
INTRODUÇÃO
A segunda parábola de Jesus que estaremos estudando neste trimestre é a parábola do joio e do trigo, que se encontra no conjunto das sete parábolas do reino de Deus, no capítulo 13 de Mateus, não tendo sido reproduzida em nenhum outro evangelho sinótico. Trata-se, de mais um ensinamento de Cristo a respeito do reino de Deus (ou “reino dos céus”, como é designado no evangelho segundo Mateus), onde o Senhor procura mostrar aos seus discípulos o significado deste reino e a natureza deste reino, onde entramos quando nascemos de novo. Trata-se, portanto, de mais uma parábola que tem interpretação autêntica, ou seja, cuja interpretação foi dada pelo próprio autor da parábola, motivo por que não devemos, assim, especular além do que já foi objeto de interpretação nas Escrituras. Ao contrário da parábola do semeador, onde o Senhor quis ensinar sobre a distinção entre justo e injusto pela frutificação, aqui o objetivo do ensino é mostrar que, no mundo, sempre haverá justos e injustos e que cabe apenas ao Senhor a separação final deles, no instante final da história.
A parábola do joio e do trigo tem sido muito utilizada para se justificar a presença do pecado no meio da igreja, mas não é esta uma aplicação correta da parábola, vez que a colheita final, em momento algum, representa a abolição da disciplina.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo. Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se”(Mt 13:24-25).
Toda Parábola tem uma Verdade Central, que nós chamamos de Núcleo da Parábola. Assim, é necessário entender qual é essa Verdade Central que vai interessar para o nosso estudo e não pretender usar os demais elementos utilizados para dar corpo à Parábola, como fontes de outros princípios doutrinários.
Ressalta-se ainda que o Senhor Jesus não usou nenhuma Parábola como fundamento primário das Doutrinas Bíblicas. No Novo Testamento as Parábolas foram elaboradas para revelar os mistérios do Reino. Uma das razões do uso das Parábolas com esse objetivo foi para que apenas aqueles que fazem parte do Reino pudessem conhecer suas verdades profundas, ou seus mistérios, conforme o Senhor Jesus declarou aos seus Discípulos – “...Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é dado; porque àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso, falo por parábolas, porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendam”(Mt 13:11-13). No Núcleo de cada Parábola encontramos o Senhor Jesus e o Seu Reino.
1 – Jesus na Parábola do Joio e do Trigo - “...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo”. Este Homem “que semeia a boa semente” é uma figura de Jesus. Ele é este Homem. Continua sendo o mesmo Homem da Parábola do Semeador, aquele “semeador que saiu a semear” e que, após sua Ressurreição, encarregou seus discípulos de continuarem a Semeadura, por todo o mundo. Ali a Semente era, e continua sendo, A Palavra de Deus.
2 – A Semente na Parábola do Joio e do Trigo - Não é a mesma Semente da Parábola do Semeador. Aqui, na Parábola do Joio e do Trigo, a Semente não é a Palavra, mas, as pessoas que foram alcançadas pela Palavra de Deus. Portanto, nesta Parábola tanto o Trigo como também o Joio referem-se aos homens, às pessoas.
A “boa semente” são os crentes salvos, aqueles que após ouvirem A Palavra de Deus, creram, e aceitaram o Senhor Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, tornando-se “filhos do Reino”, conforme afirmou o próprio Jesus – “... a boa semente são os filhos do Reino”.
A má semente, ou o Joio, são os filhos do Reino, deste mundo, do qual Satanás é seu Príncipe, conforme a ele se referiu Jesus, quando disse – “Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o Príncipe deste mundo e nada tem em mim”(João 14:30). Aqui o Senhor se referiu a ele como “Maligno”, ao identificar o joio – “...o joio são os filhos do Maligno”(Mt 13:39). Assim, na Parábola do Joio e do Trigo, os “filhos do Reino” representam o “bem” e os “filhos do Maligno” representam o “mal”.
Portanto, a Verdade Central que o Senhor Jesus estava ensinando é a de que, aqui na Terra, o Bem e o Mal teriam que conviver, lado a lado, até o fim. Enquanto que na Parábola do Semeador a Verdade Central é que a Palavra de Deus deve ser pregada e ensinada a todos os homens, não importando a forma com que estes a recebam – a ordem é anunciar a Palavra, quer as pessoas aceitem, ou não – A missão do Semeador é Semear, a tempo e fora de tempo.
I – O CAMPO DE PLANTIO(v.24)
“...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo”. O Campo, aqui, continua sendo o mesmo da Parábola do Semeador. Ali a Semente, representando a Palavra de Deus, foi semeada; aqui temos o trigo como resultado da semeadura.
O Campo é o mundo, cuja base territorial é a Terra. Conforme vimos na Parábola do Semeador o Senhor Jesus falou em quatro qualidades de solo. Sendo que, na simbologia bíblica, o numero quatro é o numero da Terra, subentende-se que o campo é toda a Terra. Por esta razão o Senhor Jesus afirmou que “...O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo”.
Jesus é o Dono do Campo. Ele semeia “no seu campo- Ele é o Senhor e único dono do Campo. Os servos referidos na Parábola, que representam, também, os servos, de hoje, tinham consciência que eles não eram donos e nem sócios do campo, mas que trabalhavam para o Dono, a quem chamavam de SenhorE os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem então joio?” Para a Bíblia, em relação ao Campo, existem os servos e o Senhor, o qual é seu único Dono. A Bíblia não conhece a figura do servo, como dono, do arrendatário ou do sócio. Ele, o Senhor, é o dono e semeia no que é seu. A Terra, como base territorial do mundo, pertence ao Senhor por direito de criação e por direito de preservação“No principio, criou Deus os céus e a terra”(Gn 1:1). “O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada”(Jó 26:7). Suspensa sobre o nada, certamente que a Terra é sustentada e preservada pelo seu Poder. Deus nunca abriu mão de seu direito como proprietário da Terra. Não apenas a Palavra de Deus diz que “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habita”(Sl 24:1), como Ele próprio, pessoalmente, diz – “...porque toda a terra é minha”(Ex 19:5). É certo que Ele nunca transferiu nem sua posse, nem sua propriedade para ninguém. O campo, diz Jesus, representa o mundo (Mt.13:38), entendido mundo aqui como o mundo físico, ou seja, o planeta Terra onde os homens habitam. Este campo, explicou Jesus, é do Homem, ou seja, é propriedade de Jesus. Fazemos questão de enfatizar este aspecto porque se têm introduzido doutrinas no meio evangélico que negam que Jesus seja o dono do mundo ou que Deus seja o dono do mundo, insistindo em dizer que o mundo, com o pecado, caiu sob o domínio de Satanás, que, assim, se comporta como verdadeiro usurpador. Dizem estes que, com o pecado, o homem passou o domínio do mundo, que lhe fora confiado por Deus quando de sua criação, ao inimigo e que, por isso, o diabo teria hoje “legalidade” para governar o mundo, motivo por que, aliás, a Bíblia o chamaria de “deus deste século” e de “príncipe deste mundo”. Entretanto, esta versão não tem respaldo bíblico. O homem encontra-se, sim, dominado pelo pecado, a partir do momento que, adquirindo consciência, peca, já que herdou a natureza pecaminosa do primeiro casal. Este domínio do pecado sobre si, que Deus já havia previsto quando se dirigiu a Caim (Gn.4:7) e que é tão bem descrito por Paulo na carta aos romanos (Rm.7:14-24), gera uma escravidão do homem em relação ao pecado (Jo.8:34), sujeitando-o ao diabo (Jo.8:44). Vemos, portanto, que, por causa do pecado, o homem é escravizado e passa a fazer a vontade do inimigo, mas isto não transforma o mundo físico em propriedade e nem sequer em área possuída pelo adversário. O campo é do homem que semeia a boa semente, ensina-nos Jesus. O Senhor continua no controle da situação e o inimigo apenas tem permissão para atuar, quando os homens estão dormindo, para fazer a sua semeadura e dali sair. Vejamos que o inimigo, em momento algum, domina o campo e nem sequer parte dele, mas tão somente, na ausência de vigilância dos homens, lança a sua semente má no meio da boa semente. O campo, portanto, continua sendo do homem que semeia a boa semente, que jamais perde a sua autoridade e domínio.
Conforme afirmamos, as Parábolas dizem respeito a Jesus e a seu Reino. Assim é que, na Parábola do Joio e do Trigo, o Senhor Jesus, facilmente é identificado como sendo o “homem que semeia boa semente no seu campo”. O mesmo que é chamado pelos servos de “pai de família”.
II – OS DOIS SEMEADORES(Mt 13:24,25)
Ao analisar os versículos 24 e 25 percebe-se que Jesus referiu-se aos dois semeadores como “o homem e o seu campo”(v.24) e “o inimigo”(v.25), que às escondidas entrou ali e semeou o joio do mal. O inimigo semeou joio, que é uma planta muito semelhante ao trigo, exatamente porque sabe que há uma tendência dos homens de julgarem segundo a aparência. Sigamos o conselho de Jesus e jamais permitamos que a aparência seja o nosso critério de julgamento, especialmente quando se trata de assuntos de ordem espiritual. A semeadura do proprietário e a semeadura do inimigo fizeram-se sem testemunhas, de modo oculto às vistas e não será senão pela frutificação que teremos condições de saber o que é e o que não é de Deus.
Notamos, também, que, após ter semeado o joio no campo, o inimigo se retirou. Aqui há uma diferença de caráter entre o proprietário e o inimigo. O proprietário é alguém que fica no campo, que semeou a boa semente sem testemunhas, assim como o inimigo, de forma imperceptível aos olhos dos seus servos, mas é alguém que não abandona o campo, que está sempre presente, que cuida do campo, que o mantém e o conserva até o dia da ceifa. Jesus é assim. Não só criou o mundo e todas as coisas que existem (Jo.1:1,3), como também as sustenta até o presente instante (Cl.1:17; Hb.1:3). Jesus não é um Deus que criou o mundo e depois o abandonou. Muito pelo contrário, é um Deus participativo, que promete estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20). Não nos esqueçamos disto! Muitas vezes nos sentimos sós, desamparados, e o desânimo parece inevitável, mas fiel é o que prometeu e, por isso, não deixe de sentir ao seu lado a presença do nosso amado Salvador. Ele é o proprietário que jamais abandona a boa semente do campo!
Assim não é o inimigo. A parábola fala que, após ter feito a sua semeadura, também sem testemunhas, às escondidas, aproveitando-se da falta de vigilância dos homens, o inimigo se retirou. O diabo não é companheiro, mas, como diz o seu nome, é um acusador. É aquele que não perdoa o ser humano e que, depois de tê-lo tentado e ludibriado, é o primeiro a exigir a condenação do pobre pecador. Ele vive de um lado para outro deste mundo, atormentando e achando ocasião para acusar, de dia e de noite, os homens, principalmente aqueles que se dispõem a servir ao Senhor (Ap.12:10). Furtivamente, o diabo lança a sua semente no mundo, mas não impera sobre ele, tem de se retirar, porque o campo tem dono e este dono é o Senhor Jesus.
1) Jesus, o semeador de seu próprio campo - A parábola mostra-nos, ainda, que o semeador tem controle sobre todo o campo, é seu proprietário e seu senhorio é exercido plenamente, ainda que tenha havido permissão para a semeadura por parte do inimigo, por falha que não é sua, mas conseqüência da falta de vigilância dos homens, a quem havia sido atribuída a tarefa de guardar o campo. O fato de ter sido semeado o joio e de ele até crescer juntamente com o trigo em nada abala os propósitos do dono do campo. Ele havia plantado a boa semente para colhê-la e levá-la ao celeiro e é exatamente isto que irá acontecer. O fato de ter nascido joio, de ele ter crescido, em nada mudou o plano. A parábola não registra sequer uma queda na safra, já que o joio não foi arrancado senão na hora da colheita, quando mal algum poderia ser feito ao trigo. A presença do joio só servirá para mostrar o poderio do dono do campo, visto que o joio será ceifado, amarrado e queimado.
2) O Diabo, o inimigo, semeia o joio no trigal de Cristo - O inimigo atua somente dentro dos limites da permissão. Conseguiu entrar no campo por causa da falta de vigilância dos homens, mas, se os homens não puderam entender o que aconteceu, isto não era fato surpreendente para o proprietário, tanto que ele bem explicou o que havia acontecido. O inimigo lançou sua semente e se retirou, porque não tinha condições de enfrentar o proprietário, nem mesmo de lutar por uma parcela do campo. A semente que ali lançou é má, não tem qualidade, assim como ele, mas será incapaz de alterar o rumo dos acontecimentos, não promoverá sequer queda de safra e, ao final, servirá apenas para que o senhor da casa seja glorificado e demonstre todo o seu poderio.
III – OS DOIS TIPOS DE SEMENTES(Mt 13:24,25)
Depois da retirada do inimigo, ninguém notou qualquer diferença no campo. O campo parecia estar como antes, como quando o semeador havia semeado a boa semente. A aparência era a mesma. A parábola mostra-nos, com muita clareza, que a existência de duas semeaduras no campo ficou imperceptível durante todo o tempo do cultivo. Joio e trigo são muito semelhantes e só se nota a sua diferença no instante da frutificação, que é a última etapa do desenvolvimento de uma safra. Atualmente, o Diabo continua disseminando o seu joio maligno para confundir os “trigos” do dono do Campo, através de falsos crentes, falsas bíblias, falsas igrejas, falso batismo com Espírito Santo, falsas línguas estranhas, falso louvor, falsos ensinamentos, falsos sermões, etc.
1) O joio(v.25) – O joio é uma planta herbácea parecida com o trigo no período de folhagem, no entanto, torna-se diferente ao florescer e frutificar. Suas sementes são tóxicas e que prejudicam o crescimento dos cereais. Ela é especialmente nociva ao trigo, sendo, portanto, uma erva daninha, uma “praga” muito conhecida dos agricultores nos tempos de Jesus. O seu nome científico é “lelium temulentum” ou “lolium temulentum”. Os que conhecem a forma da planta dizem que não é fácil distingui-la do trigo senão já nos estágios do desenvolvimento da espiga, porquanto esta tem forma diferente. Era comum na Palestina. Jesus diz que joio e trigo conviveram, de forma imperceptível para os homens, até o momento imediatamente anterior à colheita. De igual maneira, aos olhos humanos, filhos do reino e filhos do maligno conviverão até o momento imediatamente anterior ao final da história, que é a colheita. Durante toda a história da humanidade haverá homens fiéis a Deus e homens infiéis, justos e ímpios. O salmista bem retrata esta realidade no salmo primeiro, onde mostra a existência de justos e de pecadores. Embora de natureza diferente, eles se assemelham, eles são parecidos, assim como o joio é parecido com o trigo, tanto que o joio é até chamado de “trigo bastardo”.
O fato de a semente do inimigo ser o joio não é um mero acaso ou uma escolha aleatória de Jesus. Trata-se de mais um precioso ensinamento. O inimigo é astuto, é ardiloso. O apóstolo Paulo, mesmo, diz que não devemos ignorar os seus ardis (II Co.2:11), que sempre são astutas ciladas (Ef.6:11). Por isso, o adversário nunca virá de forma repugnante aos nossos olhos, mas, quase sempre virá como lobo em pele de cordeiro, como anjo de luz, deslizando como a serpente, a fim de dar o seu bote fatal. O diabo procura sempre imitar as coisas de Deus, a fim de confundir o ser humano. Assim, na antiga aliança, levantou falsos profetas, assim como, nos nossos dias, levanta falsos mestres, pessoas postas em nosso meio, assim como o joio foi posto no meio do trigo.
A parábola diz que a erva cresceu. Ao usar o termo “erva”, Jesus se refere tanto ao trigo quanto ao joio, pois ambos eram “ervas”, ambos pertencem à mesma família de vegetais, ambos são muito parecidos. Era impossível, durante o crescimento, distinguir entre o joio e o trigo. Quantas vezes não se deve ter projetado uma colheita pelo número de plantas que havia? Quantas vezes não foi o joio tratado como trigo ? Há muito evangelho falsificado sendo oferecido por aí e temos de ter cuidado, pois nem sempre é fácil a identificação.
2) O trigo( v.25) - O trigo, embora também seja uma planta da família das gramíneas, é uma planta herbácea anual, ou seja, uma erva que tem a vida de um ano, que produz o grão (cariopse) de que se extrai a farinha usada especialmente para o fabrico do pão. Como se pode perceber, portanto, ao contrário do joio, o trigo apresenta um fruto que é benéfico, que serve de matéria-prima para o alimento do homem, tem fruto que alimenta e que serve para o sustento da humanidade. Por isso, os filhos do reino foram simbolizados pelo trigo, porque são pessoas que produzem fruto bom para a humanidade, para o mundo, são indivíduos que promovem boas obras e, por elas, as pessoas glorificam a Deus que está nos céus (M.5:16). Enquanto o joio para nada serve e sua permanência no meio da lavoura só trará prejuízos ao trigo já frutificando, sendo, ainda, motivo para problemas de saúde para toda a humanidade, o trigo só serve de alimento e de sustento.
A diferença, portanto, entre o trigo e o joio só poderá ser constatado no momento em que se produzir o fruto. Por isso, no sermão do monte, Jesus avisou que somente pelos frutos seriam reconhecidos os falsos profetas (Mt.7:15-23), ensino que depois foi reproduzido pelos apóstolos, quando falaram acerca dos falsos mestres que se introduziriam no meio da igreja (II Tm.3:1-9, II Pe.2, Jd.3-19). Enquanto são semeados, enquanto crescem, são indiscerníveis aos homens, mas, no instante da frutificação, aí revelam toda a sua natureza. Enquanto o trigo serve para o bem, serve para alimento e sustento, o joio serve para o mal, apenas para danificar o trigo que está perto de si e os que seriam beneficiados pelo trigo.
Só quem tem a mente de Cristo, só quem tem discernimento espiritual poderá distinguir entre o trigo e o joio. A famosa expressão popular “separar o joio do trigo”, que surgiu por causa desta parábola de Jesus, não é algo que possa ser feito por qualquer um, mas só por aqueles que têm a mente de Cristo. Pelo nosso intelecto, pela erudição, não teremos condição alguma de discernirmos o joio do trigo.
IV – O TEMPO DA CEIFA
A separação entre o trigo e joio, ou seja, entre “os filhos de Deus” e “os filhos do maligno”(v.38) é inevitável, conforme pode-se perceber na interpretação desta Parábola, feita pelo seu próprio autor. 1) A primeira pergunta(v.27) – “Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem o joio?”- A resposta do Proprietário(Jesus) foi: “Um inimigo fez isso”(v.28)- É importante notar que o joio apareceu aos olhos dos servos do proprietário. Assim também as obras malignas aparecerão aos olhos espirituais dos servos do Senhor. Assim que viram o joio, os servos se dirigiram ao proprietário, para lhe indagar da origem daquele joio e o que deveriam fazer. Isto mostra que os servos do proprietário, ao mesmo tempo em que eram vigilantes, tinham intimidade e constante comunicação com o proprietário. Podemos mesmo dizer que o motivo de terem sido zelosos e vigilantes foi o fato de terem sido igualmente cuidadosos no seu relacionamento com o proprietário.Os servos do proprietário tiveram a correta atitude quando identificaram o joio: foram procurar a orientação do proprietário. Quando encontrarmos com obras dos filhos do maligno, quando detectarmos a presença do joio e de seu perigo, não devemos nos desesperar nem causar qualquer alarde. Devemos correr em direção ao proprietário do campo, em direção ao Senhor Jesus, que nos dará a correta orientação, a correta direção.
2) A segunda pergunta(v.28) – “Queres, pois, que vamos arranca-lo?” – A resposta do Proprietário(Jesus) foi: “ Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa...”(vv 29,30) – A lição que nos traz é a seguinte: operando o Senhor, satanás entra em ação para realizar sua obra maligna na vida do povo. Também, ele age muito pelo processo de imitação, isto é, pelo engano. Aprendemos, também, que não é nossa missão eliminar o joio do mal aqui, pois isso é trabalho dos anjos no futuro”.
O proprietário determinou aos servos que nada fizessem. Os servos queriam arrancar o joio, mas o dono da casa bem ponderou que isto iria trazer dano à plantação, pois, antes da colheita, o joio, certamente, ao ser arrancado levaria consigo algumas plantas de trigo, o que não estava, em absoluto, nos planos do dono do campo, que não quer que nenhum dos que lhe foram dados para semear se perca (Jo.6:39). Aqueles que estão nas mãos do Senhor, de modo algum Ele lançará fora (Jo.6:37). Estejamos, portanto, tranqüilos. Jesus é o dono do campo, foi ele quem lançou a semente, logo é dEle a responsabilidade de cuidar da sua Igreja. Façamos como os servos da parábola, que, embora não tenham gostado de ver o joio no meio do trigo, embora tivessem consciência de que o joio é danoso, não se atreveram a tirar eles mesmos o joio sem antes consultar o dono do campo. O dono, o maior interessado na preservação do trigo que havia plantado, mandou que eles deixassem o joio ali, até que chegasse o momento da ceifa, quando, então, o joio poderia ser retirado sem fazer mal ao trigo. Entretanto, devemos ter cuidado com interpretações que alguns dão no sentido de que não deve haver disciplina na igreja, já que o senhor do campo mandou que se deixasse o joio até a colheita. Entendem estas pessoas que, ante este gesto do proprietário, que é o Senhor Jesus, não poderiam os servos do Senhor, interpretados aqui como os ministros do evangelho, tomar qualquer providência disciplinar contra pessoas que estejam na igreja local, ainda que se perceba que sejam “filhos do maligno”, ou seja, joio, uma vez que Jesus teria mandado que se aguardasse o tempo da colheita. Assim, dizem eles, não caberia a ninguém, na igreja, a disciplina de um membro da igreja local, pois Jesus, com esta parábola teria nos ensinado que cabe a Ele tão somente o julgamento das pessoas, no dia do juízo final. Só que este entendimento não tem respaldo diante desta parábola, senão vejamos:
Em primeiro lugar, devemos lembrar, como vimos na lição 1, que nenhuma parábola pode ser utilizada para a criação de uma doutrina bíblica, pois as parábolas são histórias com as quais Jesus procura ilustrar a doutrina, ou seja, são histórias contadas para exemplificar, deixar claros ensinos já desenvolvidos pelo Senhor. Uma interpretação como a que estamos analisando nesta oportunidade nada mais é que a construção de uma doutrina com base em uma parábola que, aliás, só é registrada uma única vez no Evangelho.
Em segundo lugar, a interpretação parte do pressuposto de que os servos do proprietário são os ministros do Evangelho, ou seja, os encarregados do governo da Igreja, algo que não têm qualquer respaldo na parábola e, o que é mais grave, na interpretação que Jesus deu da palavra. Jesus não disse que os servos do proprietário seriam os ministros do Evangelho, seriam os responsáveis pelo governo da Igreja. Portanto, este pressuposto não pode ser aceito, não tem o respaldo das Escrituras, principalmente quando estamos diante de uma parábola que foi interpretada pelo próprio Jesus.
Em terceiro lugar, a interpretação considera que o joio sejam crentes que tenham praticado algum pecado na igreja local. Ora, este entendimento contradiz as próprias palavras de Jesus ao explicar a parábola. Jesus disse que o joio significa “os filhos do maligno”, ou seja, os ímpios, os pecadores. Não negamos que há pessoas ímpias que, mesmo não tendo se convertido, estão participando das igrejas locais, que são grupos sociais compostos tanto por salvos quanto por não convertidos. No entanto, o joio não se refere apenas a estes, até porque o campo não é a igreja, mas o mundo. Trata-se, portanto, de uma distorção das próprias palavras de Jesus e, assim, não podemos admitir como verdadeiro um ensino que contraria a própria Verdade.
Em quarto lugar, o próprio Jesus trouxe ensino a respeito da disciplina na Igreja, que se encontra em Mateus 18:15-19. Após ter sido anunciada a igreja, no capítulo 16, o evangelista nos traz o ensino de Jesus a respeito da disciplina eclesiástica, ensino este que, posteriormente, foi reproduzido por Paulo em mais de uma passagem, como vemos na primeira carta aos Coríntios (I Co.5) e nas epístolas pastorais(I Tm.5; Tt.2), bem assim o autor da epístola aos hebreus(Hb.12:5-11). A disciplina eclesiástica não se confunde com o julgamento final, pois a disciplina tem efeito curativo, é um remédio que é ministrado para salvar a pessoa, não uma condenação para a morte eterna, algo que, realmente, só pode ser efetuado pelo Senhor Jesus, que o fará por ocasião do julgamento final.
3) O tempo da ceifa – Jesus explicou que a colheita é o juízo inevitável que aproxima para os ímpios(vv 30,39-43). A colheita só pode acontecer no tempo certo, quando então os anjos farão a separação entre o joio e o trigo.
O tempo entre o aparecimento do joio e a colheita também representa o período em que Deus usa da sua longanimidade para com a humanidade, ou seja, revela que o Senhor não quer que os homens se percam, mas que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). Como a Bíblia afirma, Deus é tardio em irar-Se (Ex.34:6; Ne.9:17; Jl.2:13 e Na.1:3), daí porque espera antes de se apresentar como julgador. Deus é misericordioso e a sua misericórdia é a causa de não sermos consumidos assim que pecamos (Lm.3:22). Este tempo, porém, para os homens, têm um fim. O proprietário disse que era para deixar joio e trigo até o tempo da ceifa, até a hora da colheita. Neste instante, cessará este tempo e os ceifeiros, que Jesus diz que são os anjos, procederão a separação entre o joio e o trigo. A separação do joio e do trigo se dará apenas no tempo da ceifa, na hora da colheita, quando o campo cessará de ter razão para existir. Por isso esta colheita representa o julgamento final e não o arrebatamento da Igreja, como muitos interpretam erroneamente.
4) A ceifa no Juízo Final(v.30) - Jesus disse, ao explicar a parábola, que a ceifa é o fim do mundo (Mt.13:39) e não podemos distorcer a sua interpretação. O fim deste mundo se dará num momento imediatamente anterior ao julgamento final, como vemos em Ap.20:11-15. Nesta revelação que Jesus deu, por meio de seu anjo, a João, temos a confirmação do que foi ilustrado na parábola do joio. Em Ap.20:11, é visto um grande trono branco e quem sobre ele se assentava, tendo, então, fugido de sua presença os céus e a terra, não se achando lugar para eles. Este é o fim do mundo, este é o momento da ceifa, o instante da colheita, como descrito pelo Senhor na parábola do joio.
É válido ressaltar que a parábola do joio tem a ver com a relação entre o evangelho e o mundo, não com o evangelho e a Igreja. Os filhos do reino não são apenas a Igreja da dispensação da graça, mas é o trigo que será recolhido no celeiro, ou seja, todos os moradores da nova Jerusalém, que terá como habitantes não só os salvos durante a dispensação da graça, como os santos anteriores à vinda de Cristo, bem como os salvos durante a Grande Tribulação e durante o milênio.
O joio é colhido e atado em molhos. A atadura representa um instante em que o joio é reunido antes de ser queimado. Isto nos fala do julgamento. Entre a colheita e a queima há o instante da reunião de todo o joio que há no campo. Isto se dá por ocasião do julgamento final. Todo ser humano deverá ser submetido a julgamento. O Filho do homem é, por direito, o juiz dos vivos e dos mortos (At.10:42) e exercerá este juízo no tempo certo, logo após o fim do mundo.
V – CONCLUSÃO
A coexistência da igreja com o mal no tempo atual é um fato que esta Parábola transmite. Porém, o Senhor nosso Deus sabe a diferença entre o Justo e o Injusto, e, por mais parecidos que sejam, no aspecto exterior, “por ocasião da ceifa”, Ele, o Senhor, aquele que é Onisciente, ordenará a separação – “...e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio a atai-o em molhos para o queimar, mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”. O homem, enganado por Satanás, pensa que engana Deus, mas, Deus não se deixa enganar. No tempo da ceifa haverá, para sempre, a separação entre o bem e o mal – Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não serve”(Mq 3:18). Porque – “...o Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo, aparte-se da iniqüidade”(II Tm 2:19), porque o nosso Deus conhece A Diferença entre o Justo e o Injusto.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

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