30 de out. de 2010

CRISTO, O TESOURO INCOMPARÁVEL


Leitura Bíblica: Mateus 13:44; 6:19-21; Filipenses 3:7,8
INTRODUÇÃO
“Também o Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu, e pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo”.
Após ter ensinado a respeito do reino de Deus quanto à sua existência no mundo, quanto ao destino dos seus filhos, bem como quanto à sua essência, que não se confunde com a aparência que venha a possuir, Jesus parte para ensinar os seus discípulos a respeito do valor do reino de Deus. Conforme temos visto, o Senhor Jesus, em suas Parábolas, fez uso de coisas bem conhecidas de todo o povo a fim de revelar os mistérios de seu Reino. Assim, também, na Parábola do Tesouro Escondido não foi diferente.
Para nós, hoje, falar-se em tesouro escondido pode parecer estranho. Em nossos dias existem locais próprios, e seguros, onde podemos guardar nossas coisas de valor, seja dinheiro, jóias, ou qualquer outro objeto. Ninguém mais costuma enterrar, ou esconder tesouros. Porém, sabe-se que naquela época era normal e comum proceder-se desta maneira. As pessoas costumavam esconder, quase sempre enterrando seus tesouros. O Senhor Jesus, na Parábola dos Talentos, referiu-se a essa prática, quando disse – Mas, chegando o que recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não espalhaste. E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu”Mt 26:24-25). Portanto, quando o Senhor Jesus fez referencia “...a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu...”, ele estava falando de um costume praticado por muitos, e conhecido por todo o Povo.
A Parábola do Tesouro Escondido é a quinta das sete Parábolas que compõem o terceiro grande sermão de Jesus, sendo que ela foi registrada apenas por Mateus. Conforme temos visto, o Senhor Jesus se destacou como sendo um Mestre, por Excelência, porque ensinando por Parábolas, Ele fazia uso de coisas e fatos do cotidiano do povo, o que tornava seu ensino atraente e compreensível por todos seus ouvintes, qualquer que fosse o nível cultural, social ou econômico. Assim, não foi sem razão que Ele proferiu esta Parábola usando a figura de um tesouro escondido. Portanto, ao falar de um homem que encontrou um Tesouro escondido, estava falando de uma coisa bem familiar, ou de um fato conhecido por todos. Isto fazia com que seu ensino fosse sempre atraente. Conforme temos estudado, o Senhor Jesus fez uso de Parábolas para revelar os mistérios de seu Reino. Como conhecer os Mistérios do Reino de Deus era do interesse apenas dos “filhos do Rei”, então Jesus afirmou que falava por Parábolas a fim de que os que não fossem filhos do Rei, realmente não entendessem o teor do seu ensino, conforme afirmou aos seus discípulos – “...A vós vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas essas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não entendam...”(Mc 4:11-12).

Considerações Preliminares

No quarto estudo deste trimestre falamos das dificuldades de interpretação da Parábola do Grão de Mostarda. Contudo, afirmamos que aquelas dificuldades situavam-se, apenas, no âmbito dos elementos secundários, ou de sustentação da Parábola, uma vez que, entre nossos comentaristas, havia um consenso quanto à sua Verdade Central, a qual versava sobre o Crescimento do Reino dos Céus, ou da Igreja do Senhor Jesus Cristo, aqui na Terra. Entretanto, no que tange à parábola do Tesouro Escondido, as dificuldades são maiores, pois, não há entre os “nossos” próprios comentaristas um consenso sobre sua Verdade Central, conforme é possível observar através de literaturas publicadas pela própria Casa Publicadora”. Para uns, o Tesouro que se encontra no Núcleo da Parábola é Cristo“ o tesouro incomparável que uma vez encontrado, enche-nos de completa satisfação”. Para outros, no entanto, este mesmo Tesouro é o homem perdido no pecado, sendo que, neste caso o “homem” que o achou e escondeu é Cristo [ Vide a refutação desta interpretação no item 02 do tópico II ]. Para outros, identificam o “tesouro” da parábola com a Igreja, dizendo que o homem é Jesus e o tesouro escondido seria a Igreja, o mistério que esteve escondido durante os séculos (cfr. Ef.3:1-6). Entretanto, não parece ser este o melhor entendimento, haja vista que o tesouro, na parábola, já existia e tinha valor antes mesmo que fosse encontrado. Ora, sabemos que quem edificou a Igreja foi Jesus (Mt.16:18), de forma que, ao contrário do tesouro, que pré-existia ao homem que o achou, a Igreja só foi edificada por Jesus depois de sua vinda a este mundo, de forma que não havia, antes de Jesus, Igreja no mundo. Portanto, a Igreja não pode ser considerada o tesouro da parábola. A Igreja é, sem dúvida, uma jóia preciosa de Deus aqui na Terra, mas o seu valor não se encontra nela própria, como acontece com o tesouro, mas em Jesus, que é a sua cabeça e, simultaneamente, o Salvador do corpo (Ef.5:23; Cl.1:18). O valor da Igreja é conseqüência direta de pertencermos a Jesus, de sermos ramos da videira verdadeira. Portanto, o valor que a Igreja tem é resultado de ter passado a pertencer a Cristo, o verdadeiro tesouro, a fonte de todo o valor. A Igreja só tem valor na medida em que se torna o corpo de Cristo, tanto que o crente tem como alvo formar Cristo nele (Gl.4:19) e atingir a estatura de varão perfeito, a estatura completa de Cristo (Ef.4:13). Portanto, o tesouro, na verdade, é Cristo e não a Igreja, cujo valor decorre única e exclusivamente do fato de ter passado a pertencer a Jesus.
Assim, é certo que muitos professores vão encontrar em suas classes alunos que pensam desta ou daquela maneira. É claro que o professor deverá colocar, com segurança, a sua interpretação, respeitando-se as opiniões divergentes, e evitando discussões infrutíferas. É bom que sigamos a orientação que nos está proposta no nosso manual de estudo, que é a nossa Lição Bíblica.
O que chamamos de Verdade Central constitui a razão pela qual o Senhor Jesus proferiu uma determinada Parábola, ou seja, qual o ensino a respeito de seu Reino que ele quis revelar ao fazer uso de um objeto, ou de um fato, que fosse bem conhecido de seus ouvintes. Aqui, no Núcleo da Parábola, destaca-se a existência de um Tesouro, ou seja, uma coisa considerada de muito valor. Como em todas as Parábolas proferidas, anteriormente, seu objetivo é revelar os mistérios referentes ao seu Reino, ou ao Reino dos Céus, nesta o Senhor Jesus usou a figura de um tesouro, ou seja, algo considerado por todos como sendo de grande valor. Apesar das disparas identificações do Tesouro por parte de alguns comentaristas, entendemos que nenhuma das suas interpretações anula o valor do Tesouro. Isto significa que a Verdade Central da Parábola não é prejudicada.
Nas três Parábolas anteriores, o homem foi o centro das atenções do “Dono do Campo”. Nesta, o homem é considerado uma figura do pecador, o qual movido pela imensa alegria de ter encontrado algo de valor tão elevado, rejeita, ou “vende” tudo o que antes lhe dava satisfação para, agora, ficar tão somente com Cristo, o Tesouro que, para ele, estava “escondido”, tal como queria fazer Zaqueu.
Portanto, se Cristo é o Tesouro referido nesta Parábola, sendo que foi o homem que o encontrou, e não ele ao homem, então procuremos fazer dele o nosso maior bem, colocando-o acima de tudo e de todos, acima de nossos interesses pessoais, e materiais, acima de nossa própria vida, conforme ele mesmo se referiu em Mateus 10:37-39 – “quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não segue após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-a; e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”.
Se Cristo é o nosso Tesouro, e que após encontra-lo procuramos esconde-lo no mais profundo do nosso coração, façamos nossa as palavras de Paulo – Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento em Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo”(Fp 3:7-8).
Se Cristo é o nosso Tesouro, então façamos como fizeram Pedro e André, quando se encontraram com Jesus, o qual lhes disse: “...Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. Encontrando-se com Jesus e sendo chamados por ele, não perguntaram o que iriam receber, pois, para eles o bem maior era Cristo, mas se preocuparam em deixar o que tinha que ser deixado – “Então, eles, deixando logo as redes, seguiram-no”(Mt 4:19-20). Quem encontrar Cristo não tem que se preocupar com o que vai ganhar, mas, com o que tem que deixar para poder ficar com Seu Tesouro.
I -O TESOURO ESCONDIDO
Quando Jesus compara o reino de Deus a um tesouro escondido no campo, está dizendo, portanto, que o reino de Deus é algo que deve ser desejado, algo que deve ser buscado com insistência e persistência, assim como aqueles agricultores paupérrimos da Palestina, todo santo dia, ao cavarem a terra ou a andarem pelas estradas poeirentas e desérticas daquele local, tinham a esperança de, um dia, encontrarem um tesouro escondido e esquecido, que os fizesse mudar radicalmente de vida na sociedade.
01) O Sentido de “Tesouro na Bíblia” - Nos tempos de Jesus, as riquezas, normalmente, eram mantidas em metais ou pedras preciosos, já que o uso da moeda não era, ainda, muito difundido. Diante das freqüentes guerras e incertezas relativas à política, a posse de riquezas em metais e pedras preciosos era a principal forma de alguém ter o seu “pé-de-meia”, principalmente aqueles que obtinham êxito financeiro e pertenciam à elite da sociedade. Pois bem, diante de um quadro de tanta incerteza, que, inclusive, aconselhava a acumulação de riquezas em metais e pedras preciosas, não havia outra forma de se guardar as riquezas senão através da guarda na própria residência, quase sempre num compartimento apropriado, que era, por isso mesmo, chamado de “casa do tesouro” (cfr. II Rs.20:13; Is.39:2), como vemos, inclusive, no próprio templo entre os judeus (Ne.10:38; Ml.3:10) ou, mesmo, nos templos pagãos (Dn.1:2). Entretanto, a existência de uma “casa do tesouro” , como afirma o sábio, trazia inquietação (Pv.15:16b), de sorte que se tratava de uma iniciativa que somente os mais poderosos, que dispunham de condições de ter uma guarda a seu serviço, podiam se dar ao luxo de assim proceder.
02) O costume oriental de ocultar tesouros - Aqueles que não tinham como manter uma guarda ininterrupta para a proteção de suas riquezas (o que, no fundo, só podiam fazer os reis, príncipes e a classe sacerdotal), outra alternativa não tinham senão esconder este tesouro, enterrando-o em suas propriedades ou em lugares desconhecidos dos outros, a fim de impedir que ladrões viessem a tomá-lo. Naquele tempo, não havia, ainda, uma desenvolvida rede bancária, como nos nossos dias, rede esta, aliás, que só se desenvolveu a partir da metade da Idade Média, por volta do século X em diante. Verdade é que, nos tempos de Jesus, os bancos não eram desconhecidos (cfr. Lc.19:23), mas eram extremamente precários e, praticamente, eram locais de negociações rápidas, quase sempre vinculadas à troca de moedas, sem qualquer idéia de depósito de quantias sob sua responsabilidade. Nos nossos dias, com o avanço da rede bancária e com a facilidade que há na guarda de riquezas, ainda há aqueles que insistem em guardar o dinheiro em casa, “debaixo do colchão”, que dirá naqueles tempos tão precários como os dias de Jesus. Diante deste costume, portanto, não era difícil que alguém morresse sem indicar a outrem o local onde estava escondido o tesouro, isto é, o depósito das riquezas, o local onde estavam guardados os metais e pedras preciosas que haviam sido escondidas ou, ainda, que alguém achasse o tesouro antes que o seu dono fosse buscá-lo.
03)A possibilidade de ser dono do tesouro descoberto - Entre as pessoas simples que trabalhavam no campo, em serviço braçal, despidas de recursos, era sempre uma esperança achar um tesouro que estivesse escondido em uma caverna, ou enterrado em um local onde se procedesse a um cavar, uma remota esperança, mas sempre uma esperança, algo semelhante à esperança que muitos homens têm, na atualidade, de serem sorteados em concursos ou de ganharem em alguma das muitas loterias existentes, desejo este que, embora seja remoto, é tão vivo e persistente que movimenta um dos maiores negócios do mundo, como é o jogo.
O objetivo da vida do homem também é comparado a um “tesouro”. Aquilo que muito queremos, aquilo que muito desejamos é o tesouro, como era para o agricultor judeu dos dias de Jesus. Ao dizer que o reino de Deus é um tesouro escondido no campo, Jesus está nos dizendo que o reino de Deus é algo que tem de ser desejado, algo que tem de ser buscado, algo que tem de ser elevado à condição de um objetivo, de um propósito por parte do ser humano. O tesouro escondido não é conhecido de antemão, não é palpável de pronto, mas é uma esperança, é algo que é esperado e que tem de ser insistentemente buscado.
Jesus mostra, nesta parábola, que o reino de Deus não vem dos esforços humanos, nem depende do homem para que exista. O tesouro escondido existe antes que o homem o encontre. Não é o homem que o encontra que dá valor ao tesouro ou que lhe dá condição de existência, mas o homem que o encontra é tão somente um beneficiário deste tesouro. Fica rico porque encontrou o tesouro, mas o valor vem do tesouro e não do homem que o achou. Assim é o reino de Deus: ele vale por si mesmo, não pelo homem que o encontra. É o reino de Deus quem enriquece, não o homem que, se não encontrar o tesouro, continuará pobre e sem recursos.
Há, sim, uma participação por parte do homem que encontra o tesouro. Esta participação está no esforço e na busca incessante para encontrá-lo. Se o homem não procurar o tesouro, jamais o achará. Jesus diz que o homem achou o tesouro, de forma que há uma participação do homem na apropriação do tesouro, mas isto, em absoluto, quer dizer que o valor do tesouro esteja no homem e não no próprio tesouro. Uma vez mais, Jesus nos dá a perfeita idéia da participação humana na salvação: desejar e procurar até achar.
II – INTERPRETANDO OS ELEMENTOS DA PARÁBOLA
01) O “Campo”(v.44) - O tesouro estava escondido no campo. O campo é o mundo, como podemos inferir do contexto do capítulo 13 de Mateus (Mt.13:38). Jesus foi mandado a este mundo, sem que a ele pertencesse, assim como o tesouro é enterrado no campo, sem fazer parte deste (cfr. Jo.17:16). No campo, o tesouro é escondido, para que não seja tomado pelos ladrões, assim como Jesus foi guardado e não foi feito propriedade do inimigo, que é o ladrão por excelência (Jo.10:10). O campo era do proprietário, assim se presume, já que, na maior parte das vezes, o tesouro era enterrado em campo de propriedade do dono das riquezas, ainda que este campo não estivesse, naquele exato instante, em poder do referido proprietário. Em Israel, vigorava uma legislação que proibia a perda da propriedade por parte das tribos, a garantir, portanto, que o campo nunca saísse da propriedade familiar, uma garantia a mais de que o tesouro não se perderia. Por isso, a parábola, mais uma vez neste capítulo 13, reafirma que o mundo é do Senhor (Sl. 24:1), não tendo razão alguma quem insiste em dizer que o mundo passou a ser do diabo com o pecado do homem, como, temos falado em estudos anteriores neste trimestre.
02) O “homem”(v.44) - O reino de Deus é semelhante a um tesouro escondido no campo que um homem achou e escondeu. Vemos aqui o terceiro elemento da parábola: o homem. Ao contrário das parábolas anteriores, onde, normalmente, a figura do homem do campo representava o próprio Jesus (o semeador na primeira parábola, o dono do campo na segunda parábola e, outra vez, o semeador, na terceira parábola), nesta o homem não mais representa Jesus, que, como vimos, é o tesouro, mas, sim, o pecador, aquele que busca e encontra o tesouro. Se o contexto do capítulo 13 de Mateus sempre identifica o homem com Cristo, por que o homem desta parábola não é o Senhor? Precisamente porque o tesouro escondido é o Senhor Jesus. Ora, se o Senhor é o tesouro, não pode ser, simultaneamente, o homem que buscou e achou o tesouro.
O homem mencionado nesta parábola, ao contrário dos homens das parábolas anteriores, não é o proprietário do campo. Nas parábolas anteriores, o semeador era, sempre, o dono do campo, o senhor da terra. Não é o que ocorre com o homem desta parábola , haja vista que Jesus diz que, ao achar o tesouro, vai e vende tudo o que tem para que possa comprar o campo e, assim, se fazer dono do campo. Vemos, assim, que uma qualidade relevante que os homens das outras parábolas tinham, não o tem o homem da parábola do tesouro escondido.
O homem retratado na parábola do tesouro escondido, também, é um servo, é alguém que está a trabalhar para outrem, tanto que trabalha em campo alheio. É um jornaleiro, ou seja, um empregado, um trabalhador. Esta é a posição do ser humano. O homem é tão somente um servo de Deus, é um mordomo, a quem Deus incumbiu uma nobre tarefa, a de administrar a Terra para o Senhor, mas que não passa de um servo, de alguém que está sob ordens. Esta circunstância faz com que o homem da parábola não possa ser identificado com Jesus, que é o Senhor dos senhores, o Rei dos reis (Ap.19:16).
O homem retratado na parábola do tesouro escondido é pobre. Ao achar o tesouro escondido, ele fica alegre e vende tudo quanto tem para que possa adquirir o campo, a fim de se assenhorear do tesouro. Também não pode ser símbolo de Jesus que, como a Bíblia nos ensina, é rico, embora, por amor de nós, tenha nascido pobre (II Co.8:9). Aliás, a circunstância de o homem ser enriquecido pelo tesouro é mais uma evidência de que o tesouro é Cristo, pois é Ele quem nos enriquece.
03) O “tesouro”(v.44)Diz Jesus na parábola, que, ao achar o tesouro escondido, o homem tornou a escondê-lo. Isto nos mostra que o homem, ao achar o tesouro, reconheceu o valor que o tesouro tinha e, portanto, resolveu adquiri-lo, o que somente seria possível se adquirisse o campo, pois o dono do campo é que seria o legítimo dono do tesouro. O fato de o homem ter tornado a esconder o tesouro é a demonstração de que verificou e chegou à conclusão que o tesouro era de grande valor, de tão grande valor que compensava que ele abrisse mão de todos os seus bens e adquirisse o campo onde foi encontrado o tesouro, campo este que era de valor inferior ao próprio tesouro. O homem chegou, então, à conclusão que a coisa mais valiosa que poderia possuir era aquele tesouro que havia encontrado. Tornar a esconder o tesouro é dar o devido valor ao tesouro, é abrir mão de tudo para se apossar do tesouro. Tal acontece com a salvação de um ser humano, conforme ensina Jesus. No momento em que alguém aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, abre mão de todos os valores que possa ter na vida, resolvendo tudo deixar para se apossar de Cristo, este tesouro incomparável. A conclusão a que chega a pessoa que aceita Cristo não é outra senão a do poeta sacro da Harpa Cristã: “outro bem não procurarei, outro bem eu não acharei. Já em mim ‘stá Jesus, nEle só vou confiar. Quem aqui pode me saciar neste mundo enganador? Só Jesus, Jesus, só Jesus, Jesus, Rei meu e fiel Senhor” (estrofe do hino 473).
III – CRISTO, O TESOURO SUPREMO
O tesouro escondido precisa ser achado, precisa ser descoberto e isto somente se dará quando houver a revelação do mistério de Deus, “…que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos, aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós...” (Cl.3:26-28). Por este texto de Paulo, portanto, vemos que o tesouro escondido, que é o reino de Deus, não é outro senão o próprio Cristo. Jesus é o tesouro escondido, porque, embora destinado a vir a este mundo desde antes da fundação do mundo, somente se revelou, por completo, como o Salvador, quando iniciou seu ministério público, logo após ter sido batizado por João. Mesmo assim, foi rejeitado pelo seu povo e, diante desta rejeição, foi desvendado o mistério aos gentios, que, assim, tiveram a oportunidade de também encontrar este tesouro. Mas, assim não basta que o tesouro seja noticiado, mas tenha de ser encontrado para que a pessoa usufrua as suas riquezas; não basta que o evangelho seja pregado, sendo indispensável que a pessoa queira e se disponha a encontrar Jesus, quando, então, será enriquecido com a salvação e demais bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Todos os tesouros deste mundo sejam riquezas materiais, fama, prestígio ou sabedoria humana, não podem ser comparados à grandeza do reino e sua glória de que seremos participantes(Cl 2:2,3; Rm 8:18).
01) Descobrindo as riquezas de Deus em Cristo Jesus - Somente quando nos dispomos a buscar a Deus, a procurá-lO com empenho e com dedicação é que teremos a oportunidade de encontrá-lO. Muitos, nos nossos dias, não estão verdadeiramente buscando a Deus, porque têm medo de achá-lO. Pode alguém ter receio de encontrar a Deus? Infelizmente, isto é possível, principalmente para aqueles que estão vivendo caminhos que desagradam ao Senhor. Entretanto, não devemos ter medo de Deus, mas confiar que Ele é misericordioso e que está pronto a perdoar e a lançar os nossos pecados no mar do esquecimento. Verdade é que exige de nós que, depois, não mais pequemos, como disse à mulher adúltera, mas tem de haver esta disposição de nossa parte, que é o fruto de um verdadeiro e sincero arrependimento. Quando há um verdadeiro e sincero arrependimento, uma disposição, uma vontade de mudar de vida, o pecador, certamente, encontrará o tesouro escondido, terá um encontro pessoal e real com o Senhor Jesus. Não importa o que tenha feito. Pedro converteu-se no exato instante em que, envergonhado pela tríplice negação dAquele que tanto o havia amado, chorou amargamente (Mt.26:75; Lc.22:62). Entretanto, como havia se arrependido, não teve receio em ir ao encontro do Mestre quando por Ele foi chamado (Mc.16:7), tendo, então, tido um proveitoso reencontro com o Senhor. Não foi, porém, o que ocorreu com Judas Iscariotes que, por ter apenas sentido remorso, acabou se suicidando e não atendendo ao chamado do mesmo amoroso Jesus que salvou a Pedro (cfr. Mt.26:50a). A boa notícia do evangelho, o achado do tesouro, depende, antes de tudo, de arrependimento (Mc.1:15) e isto está simbolizado nesta parábola pela circunstância de que, para o homem achar o tesouro escondido, foi necessário buscá-lo.
02) Cristo é nosso tesouro permanente – A verdade prática da nossa Lição reflete muito bem o que é ter Cristo como nosso tesouro permanente: “Tendo a Cristo como o nosso inigualável tesouro, tudo mais em nossa vida é secundário”. Se Cristo é o nosso Tesouro Permanente, então é nele que nós temos que colocar o nosso coração. Dizer que Cristo é o nosso Tesouro e, no entanto, vivermos ansiosamente, correndo e “brigando” pela aquisição de outros tesouros, então, quer nos parecer, que a posse de Cristo não bastou para preencher o desejo de possuir algo de valor. Para aquele que tem Jesus como seu Tesouro, todos os demais tesouros serão considerados como secundários sendo que nele não estará o coração do homem, conforme o Senhor Jesus, ensinou – “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu. Onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, ai estará o vosso coração”(Mt 6:19-21). As riquezas desta vida são efêmeras e perecíveis e não nos acompanham por toda a vida. Porém, Jesus, o nosso Tesouro inigualável, permanecerá conosco por toda a eternidade. Mas, para este tesouro, que é Jesus, está sempre conosco devemos pôr como objetivo, como propósito único de nossa vida, o de agradar a Deus e fazer a sua vontade. No Pai nosso, Jesus nos deixa isto bem claro quando afirma que devemos pedir a Deus que o seu reino venha e isto nada mais é que a sua vontade se faça assim na terra como no céu, ou seja, que a vontade de Deus comece a se realizar em nossas vidas (Mt.6:10). Jesus, em outra passagem, também nos mostra que o reino de Deus deve estar acima, mesmo, de nossos relacionamentos com os demais homens, a ponto de ter dito que não seria digno dEle quem não deixasse pai, mãe e filhos em prol do reino de Deus (Mt.10:37). Este ensinamento, usado por tantos como uma desculpa para negligenciarem a sua vida familiar, não tem este sentido senão o significado de que, acima da família, deve estar o propósito de servir a Deus. Mas, além das necessidades básicas de sobrevivência e da família, Jesus também nos ensina que o reino de Deus deve estar acima de nós mesmos. A renúncia de nós mesmos é outra exigência para que tenhamos parte com o Senhor. “Quem achar a sua vida perdê-la-á e quem perder a sua vida por amor de Mim achá-la-á” (Mt.10:39). É preciso que renunciemos a nós mesmos, que sacrifiquemos a nossa vontade, assim como Jesus sacrificou a sua no jardim do Getsêmane, para que possamos entrar no reino de Deus.
IV – A ESCOLHA DO MAGNÍFICO TESOURO
O primeiro e grande mandamento da lei é amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37,38). Deus não permite dividir a sua glória com nada nem com ninguém. É absolutamente necessário que deixemos tudo a fim de que possamos adquirir o tesouro. O tesouro tem mais valor do que tudo e, por isso, vale a pena deixarmos tudo para o adquirirmos.
O homem tornou a esconder o tesouro e partiu para vender todos os bens que possuía, a fim de adquirir o campo. O homem vendeu tudo o que tinha para comprar o campo, mas não porque tivesse interesse no campo, mas porque queria ser o dono legítimo do tesouro. Ora, da mesma maneira, o crente tem de estar disposto a pagar o preço neste mundo, embora não tenha este mundo como objetivo, mas, sim, a posse do tesouro, a vida eterna com Jesus. O preço, porém, é alto, pois é o preço da exclusividade. Não há como servir a Deus e a Mamom, simultaneamente (Mt.6:24). Pagar o preço não é comprar a salvação, pois não temos como compra-la, cujo preço foi o sangue de Jesus Cristo (I Pe.1:18,19). Pagar o preço é sofrer o vitupério de Cristo (Hb.11:26), isto é, sofrer a desonra e a humilhação diante dos pecadores por ser um servo de Deus. Pagar o preço é se santificar cada vez mais (Ap.22:11), é perseverar até o fim (Mt.24:13), é combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé (II Tm.4:7), é não recuar na decisão de servir a Deus e fazer somente a sua vontade (Hb.10:35-39), é não amar o mundo nem o que no mundo há (I Jo.2:15).
A consciência de que tudo deveria ser deixado por amor a Cristo é uma característica nos discípulos do Senhor. Os pescadores Pedro, Tiago e João deixaram as redes, instrumento de sua sobrevivência, e seguiram ao Senhor. O publicano Mateus(Levi) deixou a alfândega, de onde tirava o seu sustento, para seguir a Jesus. Paulo diz que todas as coisas que possuía, inclusive sua alta posição social e política, foram reputadas por perda por amor ao Senhor. Em compensação, aqueles que não deixaram o que tinham, não foram considerados como discípulos de Cristo, como é o caso do jovem rico, a única pessoa que, nos evangelhos, após um encontro com Jesus, saiu da presença do Senhor pesarosa, sem qualquer felicidade.
V – CONCLUSÃO
Se Cristo é o nosso Tesouro, então, para nós, nada, mas, nada mesmo, poderá ser mais importante e mais valioso do que Cristo! Infelizmente muitos que se dizem crentes, não conseguiram, ainda, calcular o valor desse Tesouro. Para Judas seu valor foi de trinta moedas de prata(Mt 26:14-15). Pela lei de Moisés, como está escrito em Exodo 21:32, trinta moedas de prata era o valor a ser pago pela vida de um escravo. Este foi o valor que Judas lhe conferiu. Quanto vale Jesus para nós?
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

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