30 de out. de 2010

COMPREENDENDO A MENSAGEM DO REINO DE DEUS

Leitura Bíblica: Mateus 13:1-9

INTRODUÇÃO

A parábola do semeador é uma das parábolas cuja interpretação se encontra no próprio texto sagrado, um dos casos de “interpretação autêntica”, ou seja, o próprio Jesus explicou o significado da parábola, de modo que não devemos senão nos circunscrever aos ensinos do Mestre, a fim de compreendermos qual o sentido da parábola. A interpretação da parábola do semeador encontra-se registrada em Mt.13:18-23, Mc.4:14-20 e Lc.8:11-15. Na parábola do semeador, Jesus mostra, claramente, o que é o processo da salvação e a participação divina e humana correspondentes.

As parábolas, acessíveis a tantos quantos queiram compreender Jesus, seriam objeto de interesse e dedicação por parte daqueles que, realmente, quisessem servi-lO. Temos dado a mesma prioridade ao reino de Deus que os discípulos de Jesus naquela época? Será que nossos interesses estão no reino de Deus? Se realmente pertencemos ao corpo de Cristo, se temos Cristo por cabeça, é imperioso termos a mente focada no reino de Deus e não nas coisas desta vida.

I – O SEMEADOR

A primeira observação que devemos fazer é de que a primeira personagem da parábola é o semeador. Jesus pouco fala do semeador. Diz, no intróito da parábola, que o semeador saiu a semear e, o que é interessante, nem sequer faz qualquer referência ao semeador na explicação da parábola. Parece, assim, ter total desprezo pela figura do semeador, como se ele fosse um elemento sem importância no contexto da parábola. No entanto, se bem analisarmos a parábola, veremos que o semeador, embora não tenha sido explicado pelo Senhor na interpretação, é uma figura fundamental em toda a história, tão fundamental que carece até de qualquer explicação. Sem o semeador, não haveria como a semente atingir cada um dos terrenos mencionados na parábola. O semeador é uma figura importantíssima para que a semente seja lançada, tão importante que o Senhor não precisou sequer explicar o que quer que fosse a seu respeito, pois evidente e óbvio que o semeador era o iniciador de todo o processo que nos mostraria o que é o reino de Deus.

1 – Quem é o Semeador - As Parábolas nos Evangelhos estão relacionadas com Cristo e seu Reino. Assim, em todas elas a primeira coisa é saber no que a Parábola está relacionada com o Senhor Jesus Cristo. Na Parábola do Semeador, certamente que o Senhor Jesus representa O Semeador. Este que durante os três anos de seu Ministério fez uma abundante Semeadura, indo de cidade em cidade, de aldeia em aldeia pregando e ensinando o Evangelho do Reino, enquanto preparava e ensinava seus discípulos, os quais, depois dele, seriam enviados a todo o mundo, também como semeadores. Assim, o Semeador é todo aquele que leva a Palavra de Deus, aos homens. O Senhor Jesus, como O Semeador, é o exemplo maior para os que semeiam sua Palavra. Acreditamos que, num primeiro momento, está definido qual é a Verdade Central a ser extraída desta Parábola. Num segundo momento a Parábola contém instruções para o Semeador, das quais vamos considerar algumas.

2 – Algumas das Instruções ao Semeador

2.1 – O Campo a ser Semeado é a Terra.- O Senhor Jesus falou sobre quatro tipos de lugares onde a semente foi lançada. Afirma os hermeneutas, que, na Tipologia Bíblica, o número quatro é o número da terra. Assim, o Senhor Jesus ao se referir a quatro lugares onde a Semente foi lançada, queria que o Semeador soubesse que a Palavra de Deus deveria ser pregada e ensinada nos “quatro cantos da Terra”. Certamente que os discípulos, os Semeadores que deveriam continuar a Obra iniciada por Jesus, puderam entender, quando, depois de ressuscitado, Ele lhes ordenou – Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...”(Mt 28:20). “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura”(Mc 16:15). Existem, hoje, na Terra, grandes espaços, alguns com muitas pedras e espinhos, outros solidamente endurecidos pelas heresias satânicas, e até espaços com terra muito boa – esperando pelos verdadeiros semeadores.

2.2 – A Missão do Semeador é Semear a Semente -“...o Semeador saiu a Semear”. Ele saiu para semear, e semear a Palavra de Deus. Quem sai para semear precisa ter semente, muita semente. Ele não saiu para combater as Religiões, mas, para pregar e ensinar a Palavra de Deus; ele não saiu para semear as suas próprias idéias, ou suas opiniões pessoais, mas, para pregar e ensinar a Palavra de Deus; ele não saiu para semear contendas, divisões, mas, para pregar e ensinar a Palavra de Deus. Ele não saiu para escolher onde devia semear, para estudar a qualidade da Terra, para primeiro arrancar os espinhos, remover as pedras, revolver e regar o solo endurecido, nem para matar as aves que pudessem comer as sementes, mas ele saiu para semear onde houvesse terra, não importando se boa ou má. A missão do Semeador é Semear, em todo o tempo e em todo o lugar. A missão do homem de Deus é pregar e ensinar a Palavra de Deus, ouSemear a Semente”. Os Anjos não podem fazer este trabalho. A Missão do Espírito Santo é a de, mediante a pregação e o ensino da Palavra, convencer o pecador “...do pecado, e da justiça, e do juízo”(João 16:8), conduzindo-o, depois, à uma vida de santificação. A Missão do Senhor Jesus é a de salvar o pecador arrependido, pois, conforme Ele mesmo afirmou – “...O Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”(Lc 19:10). Esta é a vontade do Pai: que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”(I Tm 2:4). Assim, o Semeador tem que se preocupar, apenas, em cumprir a sua missão: Semear. Nem o pregador, nem o Espírito Santo, nem o Senhor Jesus e nem o Pai pode obrigar o homem que ouviu a mensagem da Palavra a aceitar a salvação na Pessoa Bendita de Nosso Senhor Jesus Cristo. O crer no Senhor Jesus Cristo “e serás salvo”, como disseram Paulo e Silas, ao carcereiro de Filipo, é uma decisão, exclusivamente, do homem. Foi o próprio Deus quem lhe deu esta liberdade de escolha, conhecida como livre arbítrio. Deus não viola essa liberdade. O Homem é livre para aceitar a Salvação e ir para o Céu, como também para rejeita-la, e ir para o inferno. Sabendo disto, o Semeador não pode desanimar, mas, ainda que não veja a semente germinando, deve prosseguir na sua Missão, que é a de Semear.

2.3 – O trabalho do Semeador é difícil e o retorno, em números, pode ser pequeno - Todo agricultor sabe que semear é um trabalho difícil e que só pode ser bem feito por aquele que tem amor à terra. Existe um tempo para semear, e quando chega esse tempo tem que semear, caso contrário, o tempo próprio passa e não haverá colheita. Daí, se naquele momento as circunstâncias não forem favoráveis, então o semeador tem que usar a fé, a fé natural, é claro, e arriscar – Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha as nuvens nunca segará”(Ec 11:4). Para a Semeadura Espiritual o tempo é hoje, com vento ou com nuvens, conforme Paulo instruiu Timóteo – Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo... que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”(II Tm 4:1-2). Semear é um trabalho difícil, penoso, que exige fé e amor à terra. O Salmista, porém, chamou a Semente, de preciosa – “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”(Sl 126:6). O profeta Isaias falou em semear sobre as águas, sendo que, na Bíblia, águas simbolizam dificuldades, lutasBem Aventurados vos, que semeais sobre todas as águas e que dais liberdade ao pé do boi e do jumento”(Isaias 32:20). “Todas as águas” pode significar semear em todos os tipos de terrenos: à beira do caminho, nos pedregais, entre espinhos, e até em terra boa. Dar “liberdade ao pé do boi e do jumento”, que eram e são animais de serviço e que, aqui, pode significar dar condições financeiras, libertando os pés daqueles que são chamados para ir. Ao usar a figura do Semeador, o Senhor Jesus deixou claro as dificuldades que terão que ser enfrentadas por aqueles que levam a Palavra de Deus. Levar a Palavra “andando e chorando”, ao que nos parece, a Parábola do Semeador não é bem conhecida, hoje, como foi nos tempos apostólicos, de forma especial de Paulo. Aqueles que estão “levando” a Semente, viajando na classe executiva de modernos aviões, em viagens ditas missionárias e hospedando-se em Hotéis Cinco Estrelas , parece-nos que não estão “andando e chorando” e nem semeando “sobre todas as águas. Aqueles que estão “levando” a Semente, viajando em estradas de primeiro mundo, em confortáveis veículos importados , parece-nos que não estão “andando e chorando”. Aqueles que estão “levando” a Semente, porém, confortavelmente instalados em requintados escritórios, com ar condicionado, e todos os meios de comunicação, parece-nos que não estão “andando e chorando”. Aqueles que estão “levando” a Semente, porém, à custas de salários superiores a de todos os membros da Igreja, e nivelados aos dos Grandes Executivos, parece-nos que não estão “andando e chorando”.

2.4 – Semear a preciosa Semente além de ser difícil, a recompensa embora certa, virá em tempo incerto - A recompensa do Semeador é certa, conforme declarou o Salmista – “...voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. “Voltará” é futuro; a recompensa não é imediata. Trazendo consigo os seus molhos significa uma recompensa depois da colheita. Isto pode significar que muitos receberão sua recompensa depois da Grande Colheita que, biblicamente, representa o Arrebatamento da Igreja. Assim, é possível pensar que muitos Semeadores só receberão suas recompensas perante O Tribunal de Cristo. Se você é um Semeador, console-se com estas palavras, pois, conforme declarou Paulo: Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”(I Co 15:19). Paulo nada recebeu, enquanto estava aqui. Porém, pouco antes de sua morte, afirmou: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia...”(II Tm 4:7-8).

2.5 – A Colheita não é proporcional à quantidade de Sementes semeadas - Ao propor a Parábola do Semeador acreditamos que o Senhor Jesus quis ministrar aos seus discípulos esta importante lição de que o retorno do trabalho realizado pode não ser o que o Semeador espera. Das quatro partes de sementes que foram semeadas, três delas perderam-se, não havendo retorno. Perdeu-se 75% do plantio, aproveitando-se apenas 25%, sendo que nesta a produção média foi de 63,3%.

II – A SEMENTE

A semente, diz-nos Jesus, é a palavra do reino, é a Palavra de Deus. Quando pregamos, devemos pregar a Palavra de Deus. Anunciar o reino de Deus é anunciar a Palavra de Deus. Jesus deixa isto bem claro. O semeador saiu a semear, ou seja, o trabalho do semeador é levar a semente, que é a palavra do reino, que é o evangelho, que é a Palavra de Deus. Não estamos aqui neste mundo para pregar costumes, doutrinas de homens, conceitos filosóficos, teses teológicas. Não e não! Estamos aqui para semear, para levar a palavra do reino, a Palavra de Deus. Jesus ensina-nos isto, pois sua mensagem é clara, sucinta e objetiva: O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho (Mc.1:15). Muitos, nos nossos dias, se preocupam em pregar um belo e eloqüente sermão, em demonstrar erudição, conhecimento filosófico, atualização e profundidade no saber humano, mas nada disto é necessário. Devemos semear, ou seja, levar a palavra do reino, levar a Palavra de Deus para os mais diversos terrenos existentes. A semente não é resultado de nosso esforço, nem de nosso conhecimento. O semeador leva a semente. O semeador não é o engenheiro genético que produziu a semente transgênica no laboratório, mas é aquele que leva a semente para o terreno. Ao engenheiro compete discutir sobre a qualidade, sobre a saúde e a segurança do produto. Ao semeador, compete apenas semear. Se ele começar a discutir os aspectos do produto e não semear, seu trabalho terá sido inútil. Assim fazem muitos hoje: discutem, debatem e se perdem nos meandros do produto (ou seja, da Palavra de Deus), esquecendo-se de que seu papel é um só: semear. O semeador saiu a semear. Isto é o que devemos fazer! Para semear, porém, o semeador tinha de conhecer a semente. Era preciso que a identificasse. Se não deve discutir a sua estrutura, a sua qualidade, é indispensável que o semeador saiba onde está a semente, o que é a semente, a fim de poder pegá-la com a finalidade de levá-la até o terreno. Assim, se não devemos nos perder nos devaneios intelectuais, também não podemos admitir o chamado “antiintelectualismo”, ou seja, a atitude de muitos que não se preocupam em conhecer a semente. Se o semeador não soubesse o que é e onde estava a semente, não poderia sair a semear. É fundamental que o semeador conheça a Palavra de Deus, que saiba o que ela é, a fim de que tenha condições de semear. Na evangelização, o cristão deve demonstrar conhecimento da Palavra, pois, senão seu trabalho será seriamente prejudicado. A melhor atitude é dizer o que já sabe, o que já experimentou do Senhor. Quanto ao mais, façamos como Filipe fez com Natanael. Indagado sobre se poderia vir algo bom de Nazaré, o futuro apóstolo não titubeou, respondeu a Natanael: vem e vê (Jo.1:46). Deus quis que o homem tivesse participação no processo da salvação das almas, participação esta consistente na divulgação da Palavra. Deus escolheu o semeador para semear a semente e, por isso, temos de fazê-lo. Mas não nos iludamos. Jesus deixa bem claro que a semente não é produto humano, não germina, não cresce nem frutifica por causa do semeador. Nela, semente, está a força vital. É na Palavra de Deus que se encontra a vida, daí porque Jesus ter dito que suas palavras eram espírito e vida (Jo.6:63). Muitos têm se esquecido desta verdade que é trazida por Jesus nesta parábola. A semente é vida, nela está a vida, independentemente de ter havido germinação, crescimento ou frutificação. A semente que caiu à beira do caminho nem sequer germinou, mas nela estava a vida. A semente que caiu na boa terra, que frutificou, também tinha a mesma vida que havia naquela. A diferença esteve na receptividade que teve a palavra, não na palavra em si. Por isso, não devemos nos preocupar se, ao semearmos, não houver, aparentemente, conversões de almas. Este trabalho não é o nosso. O nosso é semear e, para tanto, devemos nos esforçar, pois aí está a nossa parte, a nossa responsabilidade, responsabilidade que não é pouca.

III – O TERRENO PARA O PLANTIO DA SEMENTE(Mt 13:4-8)

Depois de nos ter mostrado o semeador e a semente, Jesus começa a ensinar os discípulos a respeito dos terrenos mencionados na parábola, onde o Senhor procura se deter. Se Jesus nada fala sobre o semeador e pouco fala sobre a semente, é nos terrenos que irá concentrar a sua interpretação, pois os terrenos representam os ouvintes da palavra. Como já tivemos ocasião de estudar na lição anterior, Jesus é um exímio mestre porque se preocupa, principalmente, com o aluno, isto é, com o receptor da sua mensagem. Ao se deter no estudo dos terrenos, Jesus mostra que seus discípulos deveriam dar especial atenção aos ouvintes da Palavra de Deus. Não devemos agir como muitos pregadores dos nossos dias, que estão interessados em si mesmos, quando pregam a Palavra do Senhor, que o fazem para ter fama, dinheiro e exaltação própria. Ao pregarmos a Palavra de Deus, devemos ter toda a nossa atenção voltada para o ouvinte, para aquele que irá ouvir a palavra. É preciso conhecer o terreno onde estamos semeando, sabendo que a semeadura é indistinta, ou seja, deve ser feita em todos os terrenos, pois não cabe ao semeador fazer escolha.

1) O terreno “ao pé do caminho”(vv 4,19) - A semente que caiu à beira do caminho representa, ensina-nos o Intérprete oficial e autêntico desta parábola, a palavra que foi ouvida por quem não a entendeu, de modo que o maligno vem e arrebata o que foi semeado no seu coração, maligno representado pelas aves que comeram a semente. Lucas ainda informa que a semente foi pisada antes de ser comida pelas aves dos céus.

O ensino de Jesus mostra-nos que a Palavra de Deus deve ser entendida por quem a ouve. Isto é importante porque, para que alguém possa entender a Palavra de Deus, é necessário que concorram dois fatores: em primeiro lugar, que a Palavra seja transmitida de modo a que seja compreendida; em segundo lugar, que a pessoa que a ouve queira compreender, assim como havia o desejo dos discípulos de Cristo em entender o significado das parábolas.

A primeira parte, como se observa, é um concurso de Deus e do pregador. A Bíblia diz que a palavra é levada pelo Espírito Santo até os ouvidos do pecador, daquele que está ouvindo a mensagem. O Espírito Santo procura convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8). Este convencimento do Espírito, porém, depende da pregação da palavra. O semeador tem de sair a semear. Quando a Palavra é semeada, isto é, quando é pregada, anunciada, o Espírito Santo faz o seu papel de convencimento, levando até o homem a fé, este dom de Deus (Ef.2:8). É preciso, pois, que o semeador fale a palavra do reino, pregue a Palavra de Deus. Quando, porém, ele não o faz, não há como haver o convencimento. Daí porque não haver salvação de almas na pregação do que não for a Palavra de Deus. Mas, para que haja salvação, Jesus diz que o pecador tem de entender a palavra do reino. Quando não a entende, ensina-nos nesta parábola, o maligno vem e arrebata o que foi semeado. O entendimento é uma operação que envolve a mente da pessoa. Não se trata aqui apenas de uma operação sobrenatural, espiritual, mas, antes de tudo, de uma operação intelectual. Mais uma vez, Jesus mostra-nos que é essencial que o semeador leve em conta o terreno, ou seja, que o pregador leve em consideração o ouvinte. Não devemos falar uma linguagem que seja inacessível ao ouvinte. Muitos hoje se esquecem que o pecador precisa entender a mensagem para poder ser convencido pelo Espírito Santo. Será que nos esquecemos do desespero do eunuco quando, indagado por Filipe, disse que não poderia entender o que estava lendo já que não havia quem o ensinasse (At.8:30, 31)? A falta de quem faça o pecador entender a palavra é o motivo pelo qual o maligno tem arrebatado a palavra de muitos corações.

A segunda parte é a do próprio ouvinte. É preciso que ele queira, que ele esteja disposto a entender a palavra do reino. O entendimento, a compreensão, Jesus mostra-nos claramente, depende de haver interesse por parte do ouvinte. Assim como os discípulos quiseram entender o significado da parábola e se aproximaram de Jesus com esta finalidade, faz-se mister que a pessoa queira entender a palavra do reino e se aproxime de Jesus. Por isso, não se deve esquecer de que a salvação é, sobretudo, uma manifestação do livre-arbítrio que Deus deu ao homem. Ninguém pode ser forçado a crer em Jesus, ninguém pode ser obrigado a aceitar a Cristo ou a se fazer crente. Não é por força nem por violência, mas pelo Espírito Santo (Zc.4:6). Não se deve deixar de convidar e insistir com alguém a respeito da salvação, pois isto é uma demonstração do nosso amor para com ela, mas, de forma alguma, devemos partir para o campo da coação, do constrangimento, pois o entendimento da palavra do reino é algo que também depende da pessoa, do seu querer.

2) O terreno com pedregais(vv 5,6) - A semente que caiu sobre pedregais (ou sobre pedra, na linguagem de Lucas) representa aquele que, tendo entendido a palavra, aceita o evangelho mas, como não tem raiz em si mesmo, ao surgir a perseguição, que é representado pelo sol na parábola, não resiste e morre, assim como a plantinha que não encontra terreno em que possa se enraizar. A perseguição provoca escândalo e, por causa disto, a pessoa abandona o evangelho.

A primeira observação que fazemos é que houve, neste caso, germinação da semente, ou seja, operou-se o novo nascimento, como Jesus descreve a salvação para Nicodemos no capítulo 3 de João. A semente germinou, ou seja, a vida surgiu, houve efetiva salvação. A parábola, aliás, serve-nos para mostrar que a salvação pode morrer, ao contrário daqueles que defendem a idéia de que “uma vez salvo, salvo para sempre”. Jesus diz que o pecador recebeu a palavra e, mais, recebeu-a com alegria, tanto que a plantinha germinou. Entretanto, a salvação não depende apenas do novo nascimento. O que Jesus nos ensina claramente é que, após ter germinado, a semente precisava de terreno para crescer. A semente precisa crescer, não basta que tenha nascido. Também na vida espiritual, não podemos conceber que alguém tenha a vida eterna sem que, ao mesmo tempo, promova o seu crescimento espiritual. A vida espiritual é dinâmica, é vida e, como tal, não comporta nenhum momento de estagnação, de estabilidade. Quem está em Cristo, é uma nova criatura, mas uma criatura que precisa crescer até a estatura de varão perfeito, até a estatura completa de Cristo, ou seja, sempre, já que isto é impossível de ser alcançado. Jesus disse que a semente germinou, surgiu uma pequena planta que, porém, não teve para onde crescer. O terreno era pedregoso, ou seja, não tinha terra que permitisse a formação de raízes que sustentassem um crescimento. A pedra fala-nos de resistência, de dureza, de algo sem vida. Se, na nossa vida com Cristo, não deixamos que o Senhor esmiúce a penha(Jr.23:29), ou seja, esmague a pedra que é a nossa resistência, o nosso eu, a nossa auto-suficiência, o terreno ficará pedregoso e não poderemos crescer espiritualmente. O resultado é que, quando vier a provação, a adversidade, não resistiremos e morreremos. A falta de crescimento faz com que o crente não resista às adversidades. A parábola fala-nos do sol, que representa a tentação, a provação, a luta, o sofrimento. Isto nos mostra, claramente, que a vida com Cristo não é mil maravilhas, não é uma vida sem qualquer adversidade, como insistem em pregar os “pregadores da prosperidade” ou os “pregadores da confissão positiva”, que são os grandes responsáveis pelos escândalos que têm levado muitos a abandonarem a fé nos nossos dias. Como afirma o sábio Salomão, o dia da adversidade também foi feito por Deus (Ec.7:14) e isto não se circunscreveu ao Antigo Testamento, já que Deus é o mesmo e não muda (Tg.1:17). Além do mais, Jesus, nesta parábola, está falando a respeito da pregação do evangelho, algo que é próprio da nossa dispensação. O que nos faz vencer a dificuldade é a presença de raízes, é uma sólida estrutura espiritual, resultado de uma vida de oração e de meditação na Palavra do Senhor. Os grandes heróis do texto sagrado venceram as adversidades porque tinham intimidade com Deus, porque eram portadores de um crescimento espiritual incessante. Não há como perseverarmos até o fim se não tivermos crescimento espiritual, se não tivermos raízes.

3) O terreno cheio de espinhos(v. 7) - A terceira semente caiu entre os espinhos. Esta não apenas germinou, como a que caíra sobre os pedregais, como também chegou a crescer, mas, ao mesmo tempo em que ela crescia, também cresceram os espinhos, que acabaram por sufocar a planta, que também veio a morrer. Jesus identifica este terreno com aquele que, embora tenha sido salvo, embora tenha até criado raízes, não percebeu que estava entre espinhos e deu espaço para que estes espinhos crescessem. Jesus explicou que estes espinhos são os cuidados desta vida, a sedução das riquezas, ou seja, as coisas deste mundo que acabam tendo prevalência a ponto de sufocar a planta e impedir que ela frutifique. Não basta que tenhamos uma vida espiritual crescente, mas, além de criar raízes, temos de ser vigilantes. A semente caiu entre os espinhos, ou seja, estava no lugar apropriado para o crescimento de espinhos, o terreno era o espinhal e o lugar reservado para espinhal não permite que outro tipo de vegetal se desenvolva. O terreno, assim, desde o início, apesar do desenvolvimento apresentado, era um local onde havia lugar para o espinho. Isto nos fala de pessoas que não servem a Deus de coração inteiro, de pessoas cujos corações estão sempre propícios para as coisas desta vida. Os espinhos são os cuidados desta vida, é a sedução das riquezas. Como disse Paulo, o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10). A busca de riquezas materiais, a troca das coisas de cima pelas coisas deste mundo, tão condenada por Paulo na epístola aos colossenses (Cl.3:1,2), tem sido a causa de muitos fracassos espirituais, como nos registra o próprio texto sagrado em exemplos tristes como os de Balaão (Jd.11), de Acã (Js.7:20,21) ou de Simão(At.8:21-23). Lamentavelmente, os nossos dias são dias em que muitos não querem servir a Deus, mas se servir da obra de Deus, inclusive fazendo dos crentes mero instrumento de lucro.

Para evitar que o espinhal venha a sufocar a planta que resultou da germinação e do crescimento da semente, impõe-se que o semeador trabalhe no sentido de retirar os espinhos, de não deixar que o terreno seja propício ao desenvolvimento dos espinhos. Deve-se, ao mesmo tempo em que se criam raízes para a planta, extirpar as raízes dos espinhos, que é o amor ao dinheiro, o materialismo, o individualismo, o egoísmo, a busca do prazer e da opulência, a fim de impedir que os espinhos cresçam, pois, com o crescimento deles, lamentavelmente haverá morte espiritual.

4) O terreno da boa terra(v.8) - Depois de ter mencionado três terrenos em que a semente nada produziu, Jesus fala-nos da boa terra. Parte das sementes caiu na boa terra, diz-nos Jesus. Por isso, germinou, cresceu e frutificou, tendo alguns produzido cem, outros, sessenta e ainda outros, trinta. Jesus explicou que este é o que ouve e compreende a palavra, dá fruto, produzindo cem, sessenta ou trinta. Estes são, portanto, os seus verdadeiros e genuínos discípulos.

A boa terra permite o nascimento da semente, como também ocorrera nos pedregais e no espinhal. Mas, na boa terra, o terreno permite o crescimento das raízes, não há resistência, a pedra dá lugar à terra, que é o mineral moído e esmiuçado pela Palavra de Deus. Sem qualquer resistência do eu, do orgulho, da auto-suficiência, o pecador simbolizado pela boa terra é humilde de espírito e, como tal, ama, fazendo o que Jesus manda. A boa terra, além de permitir o crescimento das raízes, é um lugar propício apenas para o desenvolvimento da planta que resultou da germinação da semente. É terra, mas é uma boa terra, ou seja, uma terra adequada e voltada apenas para o crescimento da planta nascida da semente. É um coração que não tem outro interesse, que não tem outra prioridade a não ser Cristo Jesus, a não ser a palavra do reino. Por isso, não surgem espinhos nesta boa terra, por isso nada compete com o amor de Deus, que é exclusivo e dedicado.

A diferença básica entre este terreno e os demais é que, nos outros, não havia frutificação, não havia fruto, não havia vida completa, vida plena. Pelo contrário, à beira do caminho, nem germinação houvera; nos pedregais, houvera germinação, mas não crescimento; nos espinhos, germinação e crescimento, mas não frutificação. O que caracteriza a vida espiritual, portanto, ensina-nos Jesus nesta parábola, é a presença do fruto do Espírito. Por isso, Jesus, no sermão do monte, havia dito que distinguiríamos os salvos dos perdidos através dos frutos (Mt.7:20).

Mas Jesus também nos ensina que, se todos os salvos frutificam, sem exceção, que é este o sinal da salvação, a marca da redenção na vida de cada discípulo seu, também é verdade que nem todos são iguais. Jesus fez questão de ressaltar que um produziu cem, outro, sessenta e, ainda outro, trinta. A frutificação não é idêntica, os crentes não são robôs em série, que não se distinguem uns dos outros, mas, muito pelo contrário, há aqueles que são mais produtivos do que outros. O Senhor, inclusive, ao se comparar à videira verdadeira, fez questão de dizer que costuma podar os menos frutíferos para que se tornem mais frutíferos (Jo.15:2).

IV)CONCLUSÃO

A parábola do semeador mostra-nos que, no reino de Deus, devemos reconhecer os salvos pelos seus frutos. O que caracteriza a vida espiritual é a presença do fruto, não importa em que quantidade. A característica da boa terra é a presença de fruto, é a frutificação, que venceu os obstáculos ao entendimento da palavra, a provação do dia da adversidade bem como a sedução das coisas desta vida. Estamos continuamente lutando contra estes fatores que têm apenas um objetivo: matar-nos e destruir-nos para que não produzamos o fruto do Espírito. Entretanto, temos de ser a boa terra, temos de receber a palavra do reino em um terreno propício e exclusivo para o seu desenvolvimento em nós. Que Deus possa nos abençoar para que, em assim fazendo, tenhamos como, naquele dia, ouvirmos do Senhor: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt.25:34).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.

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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. setstats1

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