30 de out. de 2010

AS PARÁBOLAS NO ENSINO DE JESUS











I – O QUE É A PARÁBOLA
Parábola é usada como Método de Ensino para revelar verdades desconhecidas com base em verdades e fatos conhecidos. Estas verdades conhecidas são extraídas, normalmente de pequenas histórias colhidas da natureza ou de ocorrências diárias normais das quais se pode extrair lições de natureza moral, ou espiritual. Uma pequena história real, ou uma figura conhecida que possa ser usada de forma comparativa para ilustrar um ensino moral ou religioso é o que se depreende do sentido literal da expressão grega “parabolé” cujo significado é comparação, ou colocar uma coisa ao lado de outra. O Senhor Jesus fez uso, como ninguém fez igual, do Método de Ensino através de Parábolas. Notabilizou-se sobre todos os demais Mestres porque as Parábolas no Ensino de Jesus eram sempre extraídas de fatos ou coisas simples, tiradas do quotidiano conhecido de todo povo. Nunca fez uso de história fantasiosas, de coisas complexas, de enigmas que exigissem capacidade invulgar para decifra-los. Usava figuras, ou pessoas que todo povo conhecia, tal como a figura de um Semeador que saiu a semear; da Semente que caiu na boa ou na terra ruim; de um Pastor que perdeu uma ovelha; de um Filho que abandonou a casa de seu pai; de uma Moeda perdida por uma mulher; de um vestido novo que não podia ser remendado com pano velho; de um Pescador jogando sua rede para pescar; de um Construtor que construiu sua casa sobre a areia; dezenas de historias e de figuras sobejamente conhecidas.
As parábolas eram histórias retiradas do cotidiano, do dia-a-dia dos seus contemporâneos, cuja profundidade é mostrada com elementos absolutamente triviais e simples. Elas são uma das mais eloqüentes demonstrações da “simplicidade que há em Cristo” (II Co.11:3).
Ao contemplarmos as parábolas de Jesus, devemos sempre lembrar que o ministério do ensino na Igreja deve ser exercido com simplicidade, pois não será o hermetismo, a complicação, a erudição excessiva que conferirá profundidade ao ensino, e as parábolas são a prova disto.
O ensino da Palavra de Deus deve ser universal, deve visar a todos os que se dispuserem a ouvi-lo e nós temos o dever de transmitir a Palavra da forma mais acessível possível, de modo a que sejamos entendidos pelos homens. A mensagem do Evangelho é para todo o mundo, para toda a criatura (Mc.16:15) e, por isso, temos de usar de uma linguagem facilmente acessível, como eram as parábolas.
1) Definição etimológica - A palavra “parábola” é grega. Vem de “parabolé” que, por sua vez, é uma palavra composta de duas outras palavras, “para” que quer dizer “ao lado de” e “bolé”, que era uma medida de distância correspondente um tiro de pedra (cfr. Lc.22:41). Na verdade, “bolé” é derivado de “ballo”, que significa lançar, jogar, arremessar. A palavra “parábola”, portanto, tem o sentido de “lançamento ao lado”, “arremesso ao lado”, um “lançamento feito com desvio de alvo”, ou seja, uma “aproximação”, uma “comparação”.
No Antigo Testamento, a palavra traduzida por parábola é “mashal”, que sempre designa uma comparação, uma ilustração que é feita para trazer ensinamentos espirituais, quase sempre vinculados a profecias, como nos ditos de Balaão (Nm.23:7,18;24:3,15,20), de Jó (Jó 27:1 e 29:1) ou nas profecias de Ezequiel(Ez.17:2; 18:2) e de Habacuque (Hc.2:6) ou pelo salmista (Sl.49:4). O salmista, aliás, deixou registrado o uso de parábolas pelo Messias (Sl.78:2).
2) Definição Hermenêutica – A hermenêutica é a ciência que tem como objetivo interpretar corretamente a Bíblia.Segundo esta ciência, a parábola é uma narrativa alegórica constituída de personagens, coisas, incidentes e atitudes que através de comparações, facilita a compreensão de realidades que se acham além do nosso entendimento. Um exemplo prático pode-se ver na Parábola do Filho Pródigo, onde Jesus mostra aos seus contemporâneos o singular e incomparável amor de Deus. Só assim eles poderiam entender que Deus como amoroso Pai sempre estar pronto para receber o filho que se desviou e que, agora, acha-se arrependido e desejoso para retornar a casa paterna.
3) A Bíblia é um livro rico em Parábolas -“E falou-lhe de muitas coisas por parábolas...”- Mateus 13:3. “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra...E sem parábolas nunca lhes falava...”(Mc 4:33-34). O que podemos afirmar, com segurança, é que Jesus, o Mestre por Excelência, proferiu muitas, mas muitas parábolas! Quantas foram, não sabemos. A Bíblia não fala de números, apenas, em “muitas”. De tudo o que o Senhor Jesus fez, e falou, nos seus três anos de Ministério, somente uma amostra foi registrada pelos quatro evangelistas. O Espírito Santo orientou o registro daquilo que fosse necessário e suficiente para que pudéssemos crer – “Jesus, pois operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”(João 20:30-31). Certamente que o mesmo ocorreu quanto ao número das Parábolas por ele proferidas. Ninguém pode afirmar o número delas. Uns dizem que foram 51; outros que foram 39; outros, 36. Cremos que acertam aqueles que não arriscam a dizer quantas foram, até porque a Bíblia diz “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra...”. O Apostolo João acrescentou, que “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e, se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém!” (João 21:25). Você poderá dizer que não sabemos quantas Parábolas o Senhor proferiu, mas podemos afirmar quantas foram registradas nos quatros Evangelhos. Também não! Entre os entendidos, ou os hermeneutas, não há um só entendimento quanto ao conceito de Parábola. Alguns afirmam não existir uma só parábola no Evangelho de João; outros, no entanto, identificam várias, tais como a do Bom Pastor - João 10:1-16 e a da Videira e os Ramos – João 15:1-6. Sabemos, e até podemos explicar porque Lucas foi, dos quatro Evangelistas, o que mais fez uso das Parábolas de Jesus – 32 Parábolas são encontradas no seu Evangelho. Acreditamos que Lucas, como escreveu o seu Evangelho para os gregos, ele quis mostrar-lhes como Jesus, O Mestre por Excelência, foi muito superior aos maiores de seus Mestres e Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sendo preponderantemente escrita em linguagem simbólica, a Bíblia Sagrada não deixaria de ter parábolas, até porque, entre os israelitas, sempre foi este um modo de ensino das verdades eternas. Os eruditos alistam onze parábolas no Antigo Testamento:
Os moabitas e os israelitas - O narrador foi Balaão, no monte Pisga (Nm.23:24). As árvores que escolheram um rei - Foi contada por Jotão, no monte Gerizim (Jz.9:7-15). A ovelha e o pobre - Foi narrada pelo profeta Nata, em Jerusaalém (II Sm.12:1-5).O conflito entre irmãos - Uma mulher de Tecoa contou-a em Jerusalém (II Sm.14:9). O prisioneiro que escapou - Um jovem profeta, perto de Samaria, apresentou essa parábola (I Rs.20:25-49). O espinheiro e o cedro - O rei Joás a contou, em Jerusalém (II Rs.14:9). A videira que deu uvas bravas - Isaías contou essa parábola, em Jerusalém (Is.5:1-7). As águias e a vinha (Ez.17:3-10).Os filhotes de leão (Ez.19:2-9).O caldeirão fervente (Ez.24:3-5). Israel como a vinha perto da água (Ez.24:10-14), estas quatro últimas foram proferidas pelo profeta Ezequiel, no cativeiro da Babilônia.
No Antigo Testamento, quase sempre a parábola está vinculada ao ofício profético. Eram os profetas, no mais das vezes, quem usavam deste expediente para trazer suas mensagens ao povo, a mostrar, assim, que a parábola era um meio pelo qual o Senhor procurava transmitir um ensinamento, uma orientação, fazer uma advertência para o seu povo. Na antiga aliança, esta era a função do ofício profético, que era o porta-voz do Espírito do Senhor para Israel. A parábola, assim, desempenha este papel de comunicação direta entre Deus e o homem. Deste modo, vemos que Jesus não poderia deixar de usar do expediente das parábolas na pregação do Evangelho. Sendo o ofício profético um de seus ofícios, Cristo teria, mesmo, de, a exemplo dos profetas que o antecederam, também usar deste método que, afinal de contas, era um método bem conhecido do povo israelita. Tendo a missão de fazer conhecido o Pai aos homens (Jo.15:15), o Senhor tinha de trazer Deus ao nível do intelecto humano e isto impunha o uso de uma linguagem que fosse acessível ao ser humano. O uso das parábolas, portanto, era um dos mais apropriados, porque, além de ser conhecido da população em geral, dava plenas condições para que houvesse a compreensão da parte dos ouvintes.
Os eruditos divergem quanto ao número de parábolas que os Evangelhos registram. Entendem alguns que as parábolas seriam 30(trinta), enquanto outros chegam até ao número de 41(quarenta e uma) ou 45 (quarenta e cinco) parábolas de Jesus, todas elas constantes dos chamados “evangelhos sinóticos”, ou seja, Mateus, Marcos e Lucas, evangelhos que têm como objetivo principal fazer um resumo histórico da vida de Jesus sobre a face da Terra, diferentemente do evangelho segundo escreveu João, que, sem se preocupar em fazer uma síntese biográfica do Senhor, tenta apenas mostrar a sua divindade, através dos seus discursos e de sete milagres escolhidos pelo apóstolo evangelista. Assim, em João, em lugar das parábolas, temos discursos.
Eis a relação das parábolas de Jesus nos Evangelhos: 01 - O Semeador (Mt.13.5-8; Mc.4:3-20); 02 - O Joio (Mt. 13.24-30); 03 - O Grão de Mostarda (Mt. 13.31,32; Mc.4:30-32; Lc.13:18,19); 04 - O Fermento (Mt. 13.33; Lc.13:20,21); 05 - O Tesouro Escondido (Mt. 13.44>); 06 - A Pérola (Mt. 13.45,46); 07 - A Rede (Mt. 13.47-50); 08 >- A Ovelha Perdida (Mt. 18.12-14; Lc.15:3-7); 09 - O Credor Incompassivo (Mt. 18.23-35); 10 - Os Trabalhadores da Vinha (Mt. 20.1-16); 11 - Os Dois Filhos (Mt. 21.28-32); 12 - Os Lavradores Maus (Mt. 21.33-46; Mc.12:1-12; Lc.20:9-19); 13- As Bodas (Mt. 22.1-14); 14 - As Dez Virgens (Mt. 25.1-13); 15 - Os Talentos (Mt. 25.14-30); 16 - A Semente (Mc. 4.26-29); 17 - Os Dois Devedores (Lc. 7.41-43); >18 - O Bom Samaritano (Lc. 10.25-37); 19- O Amigo Importuno (Lc. 11.5-8); 20 - O Rico Louco (Lc. 12.16-21); 21 - A Figueira Estéril (Lc. 13.6-9) ; 22 - A Grande Ceia (Lc. 14.16-24); 23 - A Dracma Perdida (Lc. 15.8-10); 24 - O Filho Pródigo (Lc. 15.11-32); 25 - O Administrador Infiel (Lc. 16.1-9); 26 - O Rico e Lázaro (Lc. 16.19-31); 27 - Os Servos Inúteis (Lc. 17.7-10) ; 28 - O Juiz Iníquo (Lc. 18.1-8); 29 - O Fariseu e o Publicano (Lc. 18.9-144); 30 - As Dez Minas (Lc. 19.12-27); 31 - Os dois alicerces (Mt.7:24-27); 32 - remendo novo em vestes velhas (Mt.9:16, Mc.2:21, Lc.5:36); 33 - vinho novo em odres velhos (Mt.9:17; Mc.2:22; Lc.5:37,38); 34 - o espírito imundo(Mt.12:43-45, Lc.11:24-26); 35 - a figueira florescente(Mt.24:32,33; Mc.13:28,29; Lc.21:29-31); 36 - o dono de casa e o ladrão (Mt.24:42-44, Lc.12:36-40); 37 - o mordomo sábio (Mt.24:45-51; Lc.12:42-48); 38 - as ovelhas e os bodes (Mt.25:31-37);; 39 - os servos vigilantes(Mc.13:34-37; Lc.12:35-38); 40 - o conviva importuno (Lc.14:7-11); 41 - a torre (Lc.14:28-30); 42 - e o rei em preparativos de guerra (Lc.14:31-33); 43 - coisas novas e coisas velhas (Mt.13:51,52); 44 - jejum e casamento(Mt.9:14,15; Mc.2:18-22; Lc.5:33-35); 45 - e os meninos na praça (Mt.11:16-19; Lc.7:31-35). Embora tenhamos relacionado 45 parábolas, somos do entendimento de que a história de rico e Lázaro não é uma parábola, mas uma história verídica narrada por Jesus, tanto que uma personagem é chamada pelo nome, o que não ocorre em nenhuma outra parábola.
II – OS OBJETIVOS DAS PARÁBOLAS DE JESUS
Jesus era conhecedor da vida humana em todas as suas formas e variantes, em todos os seus modos e meios. Era familiarizado com a vida do agricultor, do vinhateiro, do pescador, do construtor e do mercador. Algumas profissões eram por Ele conhecidas, como as de ministro da fazenda, juiz, cobrador de impostos e administrador. Conhecia os fariseus e os peritos da lei. Jesus se sentia a vontade em todos os níveis sociais e sabia ministrar a todas as pessoas independentemente da sua posição social, formação e profissão. Por meio de parábolas, o Cristo levou a todos a mensagem de salvação, conclamava seus ouvintes a se arrependerem e a crerem, desafiava os crentes da época a praticar a sua fé e exortava seus seguidores a exercerem a vigilância. Com o uso das parábolas, Jesus tinha dois objetivos: um didático e outro teológico.
1) Objetivo didático – Jesus como o Mestre por Excelência, sabia como alcançar as ovelhas perdidas da Casa de Israel. A Bíblia diz que todos se admiravam da “sua doutrina” não porque falava aquilo que o povo queria ouvir, mas, porque “a sua palavra era com autoridade”(Lc 4:31,32). Ninguém poderá ensinar, com autoridade, se não tiver convicção de que está ensinando a verdade, se não puder crer no que está ensinando, se não puder viver de acordo com o seu ensino. Jesus preenchia todas as condições para ser um Mestre, por Excelência. Como Mestre dos Mestres ele sabia, didaticamente, apresentar o método que melhor proporcionasse aprendizagem aos seus alunos: o uso das parábolas. Ao falar-lhes das coisas terrenas, mostrava-lhes, com toda clareza, as coisas celestiais. A sua didática era perfeita, pois ensinava verdades profundas utilizando-se das coisas que eram comuns no dia-a-dia dos seus ouvintes.
2) Objetivo teológico – Através do uso de sua didática simples, que só o Mestre por Excelência é capaz de usar, para explicar coisas profundas a pessoas humildes, que eram as pessoas interessadas em ouvi-lo e segui-lo, Jesus demonstrou a todos que é nEle onde está a fonte que manam todos os Mistérios do Reino de Deus. Através deste recurso, o uso das parábolas, Ele formou a primeira geração de pregadores, mestres, evangelistas, diáconos, dentre outros, da Igreja Cristã: os apóstolos.
III – PORQUE JESUS ENSINAVA POR PARÁBOLAS
Visto que o Senhor usou do método de parábolas como ninguém para ensinar os seus discípulos, alguém pode indagar:por que Jesus usou deste expediente, por que não teria sido “mais claro” nos seus ensinamentos, ainda mais quando parece que o uso de parábolas era para que o Senhor não fosse entendido por Israel(cfr Mt 13:10-17)? Não seria este um contra-senso diante da missão de Jesus aqui na Terra? Em primeiro lugar, devemos observar que Jesus usou parábolas em seus ensinos para cumprir a Palavra de Deus – Sl 78:2; Mt 13:34, 35. Em segundo lugar, Jesus tinha uma tarefa singular em seu ministério: fazer o Pai conhecido dos homens, proclamar o Evangelho, ou seja, dizer ao mundo que Ele havia vindo para salvar o mundo e tirar o pecado do mundo. Para trazer o conhecimento do Pai ao homem, Jesus tinha de ser, antes de tudo, Mestre. Por isso, das noventa vezes em que alguém se dirigiu ao Senhor Jesus nos Evangelhos, em sessenta delas foi chamado de mestre. Mestre, ao lado de Senhor, foi um título que Jesus jamais negou receber (Jo.13:13). Uma das características fundamentais do mestre é ter e compreender os alvos do seu ministério de ensino. Jesus, o Mestre dos mestres, tinha esta compreensão e sabia que tinha de fazer o Pai conhecido dos homens. Ora, para tanto, era necessário que se desse atenção especial aos alunos e para que o aluno fosse o elemento mais importante, Jesus tinha que se fazer entendido e compreendido por eles e isto só seria possível se descesse ao nível do aluno, ou seja, se se utilizasse de um método a que o aluno estivesse acostumado e de elementos que permitissem que o aluno entendesse as verdades espirituais a respeito de Deus. Numa análise do sistema de ensino então existente em Israel, vemos, claramente, que, para atingir estes objetivos, Jesus tinha de usar as parábolas, pois era o método que, a um só tempo, permitiria que todo o povo de Israel, que eram os seus potenciais alunos (Jesus havia vindo para as ovelhas perdidas da casa de Israel – Mt.15:24; Jo.1:11), pudesse ter real acesso ao conhecimento do Pai, seja pelo fato de que já estavam acostumados a este método de ensino, seja porque a linguagem empregada permitiria uma fácil compreensão de todos quantos quisessem aprender. Notamos, portanto, que Jesus quer que o ensino da sua Palavra se faça de modo claro e acessível a todos os ouvintes, respeitando-se, pois, as condições culturais, educacionais e sociais dos ouvintes.
Em terceiro lugar, Jesus ensinou por parábolas porque o povo de Israel não poderia ter qualquer desculpa com relação à rejeição do Messias. Ao ensinar por parábolas, Jesus ensinava usando de imagens que todos pudessem compreender.
Em quarto lugar, Jesus ensinou por parábolas para mostrar que só não compreende o Evangelho quem não quer. Suas simples palavras podiam ser perfeitamente compreendidas por ouvintes sinceros, e torná-los sábios para a salvação. Ao ensinar por parábolas, Jesus foi claro, se fazia compreensível a todos, mas esta compreensão exigia, pelo uso do método das parábolas, uma disposição de aprendizado por parte dos ouvintes, uma vontade de um maior aprofundamento, tanto que somente os discípulos, depois de algumas parábolas, demonstravam interesse em aprender as coisas de Deus e, assim, chegavam a pedir ao Senhor que lhes explicasse a parábola de forma mais detalhada. Jesus, assim, tinha o objetivo de mostrar claramente quem tinha e quem não tinha interesse em conhecer o Pai, em outras palavras, quem, realmente, amava a Deus, a ponto de não ser mais chamado servo, mas amigo do Senhor (Jo.15:15).
Em quinto lugar, entendemos que o uso de parábolas por Jesus estaria, também, relacionado com uma estratégia de sabedoria e de prudência do Senhor para que, diante da oposição crescente ao seu ministério, não tivessem seus adversários do que acusar o Senhor antes de ser chegada a sua hora. Entre as multidões que O rodeavam, havia sacerdotes e rabinos, escribas e anciãos, herodianos e maiorais, amantes do mundo, beatos ambiciosos que desejavam, antes de tudo, achar alguma acusação contra Ele. Espias seguiam-lhes os passos, dia a dia, para apanhá-lo nalguma palavra que Lhe causasse a condenação e fizesse silenciar para sempre Aquele que parecia atrair a Si o mundo todo. O Salvador compreendia o caráter desses homens e apresentava a verdade de maneira tal, que nada podiam achar que lhes desse ensejo de levar seu caso perante o Sinédrio. Em parábolas, Ele censurava a hipocrisia e o procedimento ímpio daqueles que ocupavam altas posições, e, em linguagem figurada, vestia a verdade de tão penetrante caráter que, se as mesmas fossem apresentadas como acusações diretas, não dariam ouvidos às suas palavras e teriam dado fim rápido ao seu ministério.
IV- COMO INTERPRETAR PARÁBOLAS
Sendo de linguagem simbólica, as parábolas pertencem ao grupo de textos da Bíblia Sagrada cuja interpretação deve ser feita de forma cuidadosa e criteriosa, a fim de se evitarem distorções doutrinárias que, infelizmente, são cada vez mais comuns nos nossos dias.
Um correto entendimento das parábolas exige:
1) que nos aproximemos de Jesus - Ao perceberem que a linguagem usada por Jesus era simbólica, que se estava diante de uma parábola, os discípulos se acercaram do Senhor e procuram uma explicação da parábola(cfr Mt 13:10). Para que compreendamos as parábolas, é necessário que nos aproximemos de Jesus. E como fazemos isto? Tendo uma vida de comunhão com Ele. Como se obtém comunhão com o Senhor? Separando-se do pecado e vivendo uma vida de oração e de meditação nas Escrituras.
2) estar disposto a ouvir Jesus, isto é, sua Palavra, acolhendo as interpretações que já estão na Bíblia sem qualquer discussão - Antes de ser indagado pelos discípulos, Jesus determinou que quem tivesse ouvidos, ouvisse (Mt.13:9). É preciso que tenham condições de ouvir a Jesus, de ouvir a sua Palavra, pois são as Escrituras que testificam do Senhor (Jo.5:39). Não se poderá, pois, compreender corretamente uma parábola se não se partir das próprias Escrituras, pois quem interpreta a Bíblia é a própria Bíblia. Nos casos, em que o próprio Jesus deu a interpretação para os discípulos, não há o que se discutir, nem o que inventar. Estamos diante do que os estudiosos da ciência da interpretação (a chamada “hermenêutica”) chamam de “interpretação autêntica”, que é a interpretação feita pelo próprio autor do discurso que será interpretado. Jesus, algumas vezes, interpretou a parábola e, desta forma, nestes casos, basta-nos apenas meditar e apreender o que Jesus explicou.
3) quando não houver uma interpretação do próprio Jesus a respeito da parábola, devemos seguir o mesmo método que Jesus usou – Quando observamos as interpretações que Jesus fez das suas parábolas, percebemos algumas atitudes que devem sempre ser seguidas por nós na interpretação daquelas parábolas cuja interpretação não foi registrada na Bíblia, a saber:
a) Cada elemento ou personagem da parábola está associado a uma verdade espiritual. A parábola tem aplicação espiritual e esta associação é a prova disto. Assim, por exemplo, na parábola do semeador, a semente é a Palavra de Deus; o semeado, é o ouvinte; o semeador, o pregador.
b) A parábola tem sempre uma lição central, uma verdade a ser transmitida, que é espiritual. O importante da parábola, pois, é este sentido espiritual e não algum pormenor ou detalhe insignificante. Assim, a semente que está à beira do caminho é o ouvinte de quem foi tirado a Palavra pelo maligno. Não é caso de ficarmos discutindo de que natureza é este caminho, os motivos pelos quais o semeador, ao semear, foi tão negligente ou qualquer outro ponto que não é o cerne do ensino. Não devemos, portanto, exagerar em pontos secundários das parábolas, pois estamos sujeitos a obscurecer o principal. Outro exemplo é a parábola do Filho Pródigo, onde devemos considerar os seguintes elementos: o pai representa o Amoroso Deus; o filho mais novo ilustra o pecador espiritualmente perdido; e o filho mais velho lembra o crente inconformado com a misericórdia divina em relação ao filho que volta a usufruir os favores imerecidos do Pai Celeste. Por conseguinte, não se deve preocupar em achar significado para os porcos, para as alfarrobas que estes comiam, etc.
c) Devemos evitar os extremos: supercomplicação e supersimplificação. Em todas elas há uma lição central e é o que devemos valorizar mais.
d) No estudo das parábolas, é indispensável que tenhamos conhecimento do ambiente cultural dos dias de Jesus, para que bem compreendamos o que Jesus quis transmitir aos seus ouvintes daquela época, a fim de que façamos a devida contextualização, ou seja, que tragamos a parábola para os nossos dias, pois, embora as verdades transmitidas sejam eternas, é fundamental que, assim como Jesus fez, tenhamos condições de, também, usarmos elementos do cotidiano, do dia-a-dia dos nossos ouvintes (ou de nós mesmos), para que bem apliquemos os ensinamentos do Senhor em nossas vidas. Afinal de contas, o objetivo de Jesus não se dirigia apenas aos seus contemporâneos, mas a todos quantos aceitam o seu nome (Jo.17:20).
e) Jamais se esquecer de que as parábolas servem para ilustrar doutrinas e não para estabelecê-lasSeu objetivo é ilustrar as verdades que Jesus quis ensinar. A parábola tem por escopo mostrar um fato importante, dela não se deve tirar, à força, lições de cada pormenor, pois algumas partes são apenas complementos da história apresentada. Infelizmente, alguns intérpretes não observam estes detalhes e avançam o sinal, trazendo ensinamentos estranhos à Palavra de Deus.
V – CONCLUSÃO
Um homem de Deus, ainda que indouto, que ouve, que lê, ou que estuda a Palavra de Deus, pode entende-la. Em não entendendo, tem a sua disposição um recurso infalível – E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-a dada”(Tg 1:5). Aprender através da oração deve ser usado por aqueles que procuram ouvir, ler e estudar a Palavra de Deus. Ficar em casa, assentado, ou deitado, esperando que um Anjo, ou o próprio Espírito Santo venha ler e ensinar-nos a Bíblia, não é o que Tiago está dizendo. Até porque o Ministério do Ensino da Palavra, o Senhor Jesus entregou aos homens, aos seus discípulos – Portanto, ide, ensinai todas as Nações...”(Mt 28:20). Somente os que se julgam sábios, somente os que não têm humildade para aprender com os discípulos de Jesus, é que não conseguem entender a Palavra de Deus. E foi, exatamente, para que os incrédulos, embora sábios, do ponto de vista material e secular, não entendessem que o Senhor Jesus, para revelar os mistérios sobre o Reino de Deus, adotou o método de ensino, por Parábolas – E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Porque lhes falas por Parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é dado”(Mt 13:10-11). Noutra ocasião o Senhor Jesus orou, dizendo: “... Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultastes estas coisas aos sábios e instruídos, e as revelastes aos pequeninos”(Mt 11:25).
Você, meu irmão, se considera sábio e instruído a ponto de não precisar ir à Escola Dominical para aprender com “esses Professores analfabetos”, ou você se considera mais um dependente da misericórdia de Deus, que ama sua Palavra e deseja conhece-la um pouco mais? Lembre-se que as Parábolas no ensino de Jesus, como ele próprio afirmou, eram como que “uma faca de dois gumes” – elas representavam uma benção para os seus “pequeninos” e um instrumento de condenação para os incrédulos e auto-suficientes – “Para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam, para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”(Mc 4:12). O ensino de Jesus salva; mas, também, condena!
Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

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